Eu já me peguei falando de nós para desconhecidos. Eu já me peguei falando de nós repetidamente para minha família. Eu já me peguei falando de nós numa daquelas reuniões de trabalho onde os figurões que podem decidir meu futuro profissional sentavam seus grandes corpos de enormes bolsos. Eu estive falando de nós pra’s paredes a cada dia desses que estivemos distantes.
Não é que eu seja compulsiva por você, e, também, não é que eu não seja. Mas, falando sério, como eu poderia superar nós dois?
Desde que a distância se fez presença entre nossos corpos eu fui tentando lidar com dos dias que nasciam e se findavam sem você estar. Fracassei com sucesso. Não houve um só instante em que sua ausência não fora a grande constante dentro da minha realidade. O tempo passou lento, dancei de taça na mão abraçada à saudade dia após dia.
E eu nem surtei, crê? Me mantive firme: não passei a te ver em rostos alheios; não te senti no abraço de outro; outros beijos não me ditaram como o seu era superior. Sempre soube que nada se assemelharia à sensação de completude de existirmos lado a lado.
Não há um caminhante sobre essa terra que possa afirmar o que nos tornamos desde nosso encontro. Nem eu, nem você. O mundo foi girando, a gente junto. Aquela sensação de triunfo surgiu e, quando não, tudo ficou assim do nosso jeito. Esse jeito de um amor nada mágico, mas cheio de magia, vivido sob dias profundamente longos, excessivamente dotados de realidade.
Então, o amor que eu nunca quis ou esperei fez assento à mesa da minha existência. Me serviu um bom churrasco gaúcho, adornado sem harmonia com um vinho muito do chinfrim. Éramos rei e rainha à beira do precipício de viver.
Entre tronos e quedas, viramos gente complexa. Nos afastamos mais vezes que consigo contar. Nos aproximamos mais vezes que eu poderia imaginar. E, depois de uma vida inteira, cá estou, apaixonada por você mais uma vez. Como antes, como sempre.
A sobrecarga da minha vida me fez te encontrar, a sua me fez permanecer. O que construímos juntos nos fez ser. A possibilidade de alguém como eu encontrar paz em alguém como você transcende a razão, é improvável, mas não inconcebível.
Juntos éramos terra fértil para a dor e, aparentemente, para o amor. Anos se passaram, o quão duro foram certas horas, nem posso mensurar. Chorei no seu colo, você tentou ser forte e desmoronou também.
Vejo que não há na física componente mais resistente do que o que formamos em fusão. Somos rocha, somos pilar. Edificamos vida, futuro.
Agora, você está aqui na minha porta, ela está aberta. Entre, sente, habite meu corpo que sempre foi sua casa. Passa um café bem do seu gosto que eu gosto, vamos desfrutar quem somos depois de tudo, nos conhecer novamente.
Eu começo: prazer, eu sou o amor para a sua vida.