Sabe quando pesa demais ser a gente? Foi a sensação que me envolveu durante as últimas semanas. Pensando sobre os potenciais motivos que me deixaram assim, cheguei à conclusão de que somos feitos de tudo aquilo que nunca dissemos e que, pelo motivo que for, preferimos guardar só pra gente.
E isso claramente pesa. Não falo somente de segredos, pensamentos que os outros não entenderiam ou sobre desejos que preferimos não expressar. Aqui eu falo sobre as nossas batalhas que ninguém vê, sejam elas ofertadas pela própria vida ou por decisões nossas que não saíram como o planejado. São consequências que enfrentamos, são choros reprimidos por falta de oportunidade ou espaço físico para se chorar – chorar na frente de alguém? Jamais, eu sou forte! ...Será?
Será que precisamos ser fortes da maneira que acreditamos que temos de ser? O tempo todo, ou ao menos o tempo todo em que alguém está vendo? E se paramos para pensar em todas as mágoas que reprimimos, em todos os desgastes, rupturas, decepções e melancolias que decidimos deixar naufragar dentro de si, qual é o tamanho do oceano que somos? Quanto pesa toda a nossa dor que optamos por não expulsar?
Se penso em todas as dores que já deixei de sentir porque pensei que alguém estava diante de uma dor muito maior, percebo que não tenho sentido o bastante. Obviamente, aloquei em algum canto meu uma dor que repousa e aguarda o momento de sua liberdade, e é um palpite certeiro dizer que isso virá para a superfície em um dia de fragilidade e transbordamento. A questão é que não existe dor maior ou menor: existe dor. E ela precisa ser sentida.
Lido com diversas histórias e muitas delas versam sobre o não sentir. Quando o relato é de alguém que trava a luta contra um episódio depressivo, quase sempre o sentimento é o mesmo: “não sinto nada”. É quando o vazio sobressalta aos nossos olhos e abraça o coração quando já não se vê sentido em saborear sentimentos – até mesmo o bom é irrelevante, já que nos acostumamos à incapacidade de sentir.
É por isso que peço humilde e diariamente para manter em mim espaços vagos que só sejam preenchidos em casos de extrema necessidade. Quero sentir vãos livres em mim justamente por sentir tudo; por não permitir que o não dito se esconda; por optar em sempre botar pra fora, seja o que for, lágrimas ou palavras, sabendo que é na vulnerabilidade que a vida e a evolução acontecem.