Sou do time que acha que, para ser pai ou mãe, todo mundo deveria passar por uma espécie de “autoescola”. Não porque a gente precise de uma licença para ter filhos, mas porque é bom refletir sobre o que vem incluso nesse “pacote”, sabe? Muitos realmente se dedicam à paternidade, prontos e dispostos a se comprometer. Mas tem também os que, por algum motivo, se apegam à gravidez mais como uma realização pessoal do que como um desafio de vida. E isso não ajuda ninguém — principalmente os filhos.
E aí entra o chá revelação. Surgido nos Estados Unidos no final dos anos 2000, a ideia era bem simples: reunir a família e amigos para contar o sexo do bebê de maneira divertida e íntima. Mas, como quase tudo, virou um espetáculo. Agora, é uma competição para ver quem consegue ser mais criativo (ou mais exagerado). Fogos de artifício, exército de drones, fumaça colorida e tantas outras cambalhotas, em uma competição de “quem vai mais longe”. A festa deixou de ser sobre o bebê e, pra variar, virou sobre quem tem mais likes e compartilhamentos.
Lembro até de um caso recente em que o Ministério Público propôs multa de R$ 180 mil para o responsável por tingir a água de uma cachoeira durante um chá de revelação no Mato Grosso. Lá atrás, no Arizona, um homem também tentou impressionar, mas errou o alvo e causou um incêndio gigantesco que destruiu 18 mil hectares e gerou milhões de dólares em prejuízos, envolvendo mais de 800 bombeiros. A pergunta que fica é: além da mãe e do pai, a quem interessa o sexo do bebê?
Em tempos de discussão sobre identidade de gênero, será que toda essa obsessão por revelar o sexo biológico não acaba colocando rótulos limitantes na criança antes mesmo dela nascer? Para muita gente, isso não define nada sobre quem ele será ou o que ele vai representar no futuro. E eu me pergunto: será que o sexo realmente importa tanto para os pais ou, na verdade, tudo resulta em (mais) uma pressão social? Eu mesmo já vi pais que esperavam uma menina e, ao descobrirem que o bebê seria menino, claramente ficaram desapontados... Como se a cor do pijama fosse a coisa mais importante do mundo.
O fato é que, enquanto as festas de debutantes — que já estavam meio fora de lugar no mundo atual — vão sumindo, o chá de revelação se espalha. O que era uma celebração simples virou um evento de competição, com o foco desviando da verdadeira razão da festa: a chegada de uma nova vida. Claro que a gravidez é um momento único e que merece ser comemorado, mas, como tantas outras tendências geradas pela internet, o que se vê são repetições de pataquadas e exageros, com um momento genuíno de celebração transformado em status e numa competição like a like, comentário a comentário.
Mas, como toda reflexão, essa é apenas a minha opinião. E, claro, para quem ainda achar graça ou valor na extravagância, que venham os próximos chás de revelação — inclusive os daqueles que discordam.