Nunca fui bom em Física. Na escola, minhas notas eram um desastre. Mas se tem um conteúdo que eu me recordo até hoje, é o experimento do Gato de Schrödinger. Nele, uma caixa fechada traz um gato do lado de dentro, acompanhado de um frasco que contém uma substância radioativa. A questão toda é: o gato está vivo ou morto? Só saberemos abrindo a caixa, o que, automaticamente, muda a possibilidade dele estar com ou sem vida. Complicado, né?
Essa teoria voltou à superfície da minha memória na última semana, quando eu pensava sobre tudo aquilo que é complexo demais — no meio disso, pensei no tempo. Logo, mais um questionamento clássico: quanto tempo o tempo tem? Assim como o gato, a dualidade também existe aqui. O tempo pode ter muito tempo ou pode não ter tempo nenhum. Tudo depende de como o enxergamos. Certamente, trinta minutos de diversão parecem passar muito rápido se comparados à trinta minutos de tristeza, por mais que, no fim, ainda sejam os mesmos trinta minutos.
Lancei a provocação durante uma palestra com adolescentes ao fazer uma pergunta sobre um de meus livros. Quis saber se eles acertariam quanto tempo tinha demorado para eu lançar a continuação de um dos títulos, e dei a dica ao dizer que se tratava de um tempo considerável. As respostas me impressionaram, é claro. Se bem me lembro, a mais longa era “dois anos” — o que, para mim, não é tanto tempo assim. Se eu tivesse que responder a mesma pergunta, acredito que a resposta partiria de cinco anos. No mínimo!
Teóricos apontam que quanto mais jovens somos, mais devagar encaramos o tempo. Quanto mais novidades são apresentadas a nós (e principalmente até a adolescência, aliás, elas são muitas), mais o tempo se estica porque nosso cérebro se vê na obrigação de processar todas as informações que recebe. Já com o passar dos anos, a mesmice recai sobre a vida adulta como um véu que não queremos, mas que vestimos. Assim, ano após ano passamos a reclamar sobre “como o ano voou”, e o segredo reside em um último questionamento: quantas coisas de diferente realizamos?
Aceitar uma mesma rotina, estática e inflexível, é o mesmo que atestar e concordar com a aceleração do tempo. Conforme os dias passam, nada de muito novo é realizado para que o cérebro trabalhe mais intensamente e desacostume-se da mesmice. Vivemos regrados sem ver o tempo passar porque não temos tempo de olhar o tempo. O que passa a nossa volta, então, acaba por voar para longe. E o mais triste é saber que muito do que vai embora não volta mais.