Já faz algum tempo que deixei de frequentar lugares que não me faziam bem. A iniciativa partiu de um acúmulo de frustrações que surgiam ao chegar em determinado compromisso e ficar me perguntando o porquê de ter ido. Convenção social? Costume? Síndrome de boa vizinhança? Quando escapei de um evento qualquer, já com o volante em mãos, passei a me questionar: por que eu estou voltando de um lugar que nem gostaria de ter ido?
Sempre que esse questionamento aparece, as primeiras dúvidas e inseguranças são voltadas ao outro. Nasce ali uma preocupação sobre como o outro vai encarar a nossa ausência, como a relação ficará depois daquilo, o que o outro pensará de nós e por aí vai. O tropeço, aqui, é não priorizar-se, silenciando qualquer vontade (ou falta dela) que trazemos dentro de si. Oras, se não quero, não vou. Deveria (e poderia) ser fácil assim, certo?
Recentemente, escutei um chororô desenfreado de uma amiga que decidiu não ir em um aniversário onde só conhecia a própria aniversariante. A lamúria durou até o momento em que questionei se ela se sentiria confortável em estar presente, pois a resposta negativa foi o estalar elucidativo que ela nem sabia que estava buscando. “Se você não se sentiria bem e isso fez que você não quisesse estar presente, por que o choro?”, perguntei. Todas as respostas, obviamente, envolveram “o outro”.
E sim, há que se pensar no outro. Assim como o outro deve pensar na gente.
Se não me sinto à vontade, não vou. Aquilo que eu espero de uma amizade, usando o caso em questão, é o mínimo de compreensão: nem sempre eu vou querer ir, nem sempre eu vou querer fazer parte. E tá tudo certo (ou deveria). Até porque, eu gosto de fazer parte quando sinto que agrego, quando me sinto bem o bastante para viver aquilo que realmente quero viver — por mim e só depois pelo outro.
Insistimos em aceitar aquilo que de antemão já sabemos não querer porque temos medo das inconveniências que possam ser causadas. Além disso, o medo da rejeição é algo que nos paralisa desde sempre, porque também desde sempre nós vivemos em sociedade, e o sentimento de pertença faz parte da necessidade humana.
De fato, é cansativo ter que discutir e encarar atritos gerados pela nossa saudável arte de priorizar a si mesmo. Mas bem mais cansativo é abafar nosso querer e dizer “sim” todas as vezes.