O labirinto de obras pela cidade tem me feito pegar alguns desvios. Inevitavelmente, a rotina é alterada porque tudo muda: não só o caminho, mas também o tempo até o destino. Praguejar é sempre a escolha mais óbvia, e admito que vez que outra ainda reclamo por conta do caos e poeira instalados na esquina de casa. Ao mesmo tempo, ultimamente tenho refletido quando é que eu passaria por lugares que nunca passei simplesmente por estar acostumado com o mesmo de sempre todos os dias.
Em paralelo a estes pensamentos, a última quinzena ganhou uma trilha sonora diferente durante manhãs e tardes. De pouco em pouco, um helicóptero sobrevoava a cidade realizando passeios turísticos, e é claro que o barulho atípico gerou estranheza em um primeiro momento. Depois, aos finais de semana, chegou até a incomodar. E foi aí que eu pensei que tudo aquilo que altera a nossa sensação de conforto extingue o pensamento de que o novo está acontecendo ao nosso redor. O tempo todo.
Certa vez, li uma frase que me fez uma pergunta retórica (ela ecoa até hoje): "você está no caminho para os seus sonhos, metas e objetivos... Né?!".
Não sei.
Assisti ao helicóptero passar tantas vezes pelo céu da janela de casa que talvez o ineditismo da situação tenha feito eu me autoquestionar. E se o caminho for outro, mas na insistência de seguir sempre no mesmo, deixamos de conhecer o diferente que nos aguarda? E se o barulho do helicóptero não for tanto incômodo assim? E se todos os buracos na rua de trás são de fato o sinal que peço seguidamente para saber se estou fazendo aquilo que deveria, da maneira que deveria? A própria placa na entrada de uma rua em obras já aponta —"desvio". Se a rotina é sinônimo de reclamação, então, pegar um atalho ou mudar a rota não deveria ser motivo de alívio?
Conheço muitas pessoas que neste exato momento estão exaustas. De suas vidas, afazeres, trabalhos e mesmice. Mas é só perguntar o que de diferente estamos fazendo, ou quanto do nosso dia abrimos espaço para que o novo nos encontre, que automaticamente a resposta para a persistência da mesmice fica óbvia. A moral da história é que a gente anseia por viagens onde encontraremos novas paisagens, mas continuamos fazendo o mesmo caminho todos os dias.