Dizem que as crianças são, até os cinco anos de idade, naturalmente impacientes. Sei lá qual parte da Psicologia eu burlei ou se esqueceram de me analisar, mas a impaciência é algo que perdura até hoje por aqui — felizmente, agora um pouco menos. Prova disso eram as longas viagens até a praia. Se o meu eu de ontem estivesse escrevendo isso, provavelmente as chamaria de intermináveis, infinitas... “Falta muito pra chegar?”, era o que eu perguntava a cada quinze minutos.
Meus pais sempre encontravam um jeito de me distrair da pergunta. Fosse colocando uma música diferente dentre as tantas opções do estojo de CD’s, fosse invertendo o jogo e me fazendo perguntas quaisquer só para eu esquecer da demora. Por mais que os anos passassem e as aulas de Geografia ajudassem, lembro que o meu pensamento de cada verão era o mesmo: “mas por que o litoral é um lugar que fica tão longe?”.
Nunca criei algum tipo de vínculo com alguma praia específica, muito menos tive casa na praia. Em contrapartida, tenho vários amigos que passaram anos da sua vida (e passam até hoje) veraneando no mesmo destino, o que fez com que existisse a ideia de uma segunda casa – acho melhor chamar de refúgio. Dias atrás, uma amiga me contou sobre as suas vivências com a família em Garopaba e como o seu pai sempre amou aquele lugar. Percebi o seu olho brilhar enquanto ela contava sobre as viagens, em um misto de excitação e pânico. Este último porque, neste verão, o carro foi para a praia com um dos bancos vazio.
A vida adulta nos faz parar de perguntar “falta muito pra chegar?”, seja qual for o destino, e nos obriga a se questionar em silêncio vez que outra: “quanto falta pra chegar?”. E aqui eu falo sobre chegar o dia, aquele dia. O dia em que o carro vai estar um pouco mais vazio, um pouco mais silencioso, que a praia não vai ser vivida da mesma forma porque para sempre estará batizada com as memórias de alguém que já se foi. É um dia que ninguém quer que chegue, apesar de sabermos desde sempre que ele vai chegar. E assim, em uma peça que a vida prega, triste, mal dirigida e com um roteiro questionável, precisamos nós mesmos descobrir se falta muito pra chegar, já que não temos mais para quem perguntar.
Em uma conversa com a mesma amiga, chegamos à conclusão de que não existe resposta para a tal pergunta. Quanto tempo falta? Não sabemos... A vida é uma imprevisibilidade que vem em forma de cafuné ou em forma de soco. Talvez o segredo seja tomar o controle do volante e nos guiarmos por conta própria, mesmo que ainda não tenhamos descoberto se falta muito pra chegar. E, mesmo sendo bastante óbvio, aproveitar o percurso.
Se acaso hoje me perguntarem se Garopaba é longe, vou responder sem ter que pensar muito: bem... Depende o ponto de vista.
Crônica dedicada a Primo Virgilio Santini Filho