Se a minha memória não estiver me traindo, a primeira vez que eu desconfiei que o Papai Noel não existia foi quando eu tinha uns 9 ou 10 anos, por aí. A revelação se deu porque reparei que o bom velhinho estava usando o mesmo tênis que o meu tio usava, exatamente quando o meu tio tinha desaparecido sem explicação. Foi o suficiente para eu entender que não se tratava de coincidência, mas mesmo assim não contei para nenhum adulto – não só para não frustrar todo o plano deles, mas também para manter viva em mim a ideia de que, sim, Papai Noel existe. Do jeito que for.
Recentemente, pipocou na internet uma nova discussão daquelas do tipo “urgentes-não-sei-pra-quem”. Dois grandes shoppings da cidade nadaram contra o previsível e deram espaço à figuras repaginadas do ícone natalino. De um lado, uma versão mais jovial e descolada e, do outro, um Papai Noel de pele negra. É claro que a internet fez o mesmo que com qualquer assunto: dividiu-se. Entre elogios e falta de argumentos, surgiram aqueles que foram contra às mudanças por acreditar que as crianças não aceitariam bem as tais trocas feitas.
Sempre que penso na frase “o que as crianças vão pensar?” sei que junto dela vem um adulto contraditoriamente preso em um tempo que já não existe mais. A verdade mesmo é que as crianças não vão pensar nada – pelo menos, nada de negativo. As crianças continuarão brincando durante a chegada do bom velhinho e sentando em sua poltrona para confessar aquilo que gostariam de ganhar. As crianças não estão nem aí para a forma, elas estão interessadas mesmo no conteúdo. Diferente dos adultos.
É aquela metáfora do ovo: por fora, brancos ou vermelhos, grandes ou pequenos, caipiras ou não. Por dentro, ovo. Exatamente a mesma coisa em todos eles.
A verdade dói mais em nós, adultos, porque de alguma forma pensamos saber de tudo. E essa verdade diz que as crianças não estão nem aí se o Papai Noel “da forma que conhecemos” veio de moto ou bicicleta, se ele perdeu uns quilos ou os óculos. Se duvidar, qualquer criança em uma rápida pesquisa de Google descobre que essa figura batida foi introduzida lá em 1931 pela Coca-Cola, ou seja, não é o suficiente para definir o “Papai Noel de verdade”. Aliás, qual é a cara do Papai Noel?
Seja o que for, insisto: certas mesmas estão as crianças. Elas pouco querem saber como ele é de fato. Estão mais interessadas no que ele traz consigo – e é aqui que reside o verdadeiro significado do Natal.