Apertem os cintos, fechem as janelas, tirem as crianças da sala. É melhor você se sentar. Mesmo que seja difícil, deixe o ceticismo de lado e acredite em mim quando eu digo: estou saindo de férias.
Eu sei, não pude evitar. Até peço desculpas, por mais que não exista culpa alguma. Pretendo me ausentar por uma semana, e desta vez não prometo responder nem mesmo as emergências. Estou me dando carta branca para fazer o que quiser, na hora que quiser, e o melhor de tudo... Se quiser (tomara que eu não queira várias vezes).
Brincadeiras de lado, finalmente encontrei um tempo (ele sempre esteve aqui, na verdade, só faltava valorizar e organizar) para não fazer nada. Um pouco contraditório, porque na realidade nós sempre estamos fazendo alguma coisa – sempre tem uma gaveta para arrumar, consultas médicas de rotina para ir, e por aí vai. Porém, desviar o foco no momento já é mais do que suficiente. Esquecer, mesmo que temporariamente, aquilo que é feito todos os dias (há muitos dias) funciona como gesto de autopermissão, uma gentileza que muitas vezes adiamos por acreditar naquilo que talvez nos habituamos sem perceber. Tirar férias? Antes do ano acabar? Que luxo, hein?!
Luxo mesmo, se considerarmos estudos feitos pela BBC em que trabalhadores americanos afirmaram sacrificar suas férias por medo de perderem oportunidades ou de serem percebidos como substituíveis. Quanto a isso, boas novas: todos somos. Entra um, sai outro, e o mundo corporativo continua o mesmo. Não somos a absoluta nem única receita misteriosa do sucesso de nenhuma empresa, por mais que nosso esforço, diplomas e resultados queiram acreditar no contrário.
No Brasil, o raciocínio é o mesmo, e parece que quanto menor ou mais interiorana a cidade, maior a crença de que a folga é sinônimo de fraqueza ou preguiça. Por aqui, os números de uma pesquisa realizada pela ISMA-BR, associação de controle do estresse e da tensão, revelam que 41% dos brasileiros têm medo de pedir férias. Os dados são um pouco antigos, o que leva a crer que a cultura recente dos coaches profissionais que ainda pregam frases como “trabalhe enquanto eles dormem” certamente fez a porcentagem aumentar.
Em um mundo onde tudo é urgente, decidi que a urgência agora sou eu. Fraqueza é o que eu tenho sentido nos últimos tempos, dado o volume de trabalho, e não o sentimento que deve me consumir ao me perceber em total inércia por um período necessário. Há que se orgulhar de pequenos movimentos como este, onde priorizar-se é o que de fato nos difere dos demais. Em conversas recentes comigo mesmo, tenho me agradecido: “parabéns pelo mínimo”.