Assisti a um filme horrível. Para mim, é claro, porque o gosto é sempre relativo. A história transita entre a paixão inesperada de uma mulher de 40 anos pelo vocalista de uma banda pop (que é febre entre os adolescentes) e a vergonha alheia em ver a Anne Hathaway estrelando. Durante duas difíceis horas, o pastelão não me cativou porque uma única pergunta me manteve como refém desde o primeiro minuto: por que uma vencedora do Oscar estaria no elenco de um filme como esses?
“Dívida de jogo”, diria Isabela Boscov, a crítica de cinema que virou meme recentemente por conta dos seus comentários engraçados. Neste em específico, um filme de fantasia tinha sido massacrado em sua recepção e até fez a cinéfila ir além: “só com alguém ameaçando quebrar suas pernas é que você aceitaria um trabalho desses”. Ao ver o cartaz de Uma ideia de você, imediatamente lembrei da piada de Boscov, mas ainda assim dei uma chance porque a atuação de Anne Hathaway em Os Miseráveis seria um contraste muito gritante caso aquele fosse um filme tão raso quanto imaginei.
E foi mesmo. O contraste realmente estava ali. Só para exemplificar, a personagem se atrapalha e invade o trailer de um popstar pensando ser o banheiro público de um festival de música... Tão forçado que qualquer um escreveria um roteiro melhor para justificar o encontro de duas pessoas tão diferentes. Confesso que esperei até os créditos finais com a certeza de que minha opinião mudaria, e enquanto isso eu julguei, julguei e julguei.
Até que decidi procurar uma explicação para minhas dúvidas.
Mordi a língua quando vi uma entrevista da atriz que disse que topou participar do filme porque “queria se divertir”. De fato: com um patrimônio líquido de mais de R$ 700 milhões e sendo a atriz mais bem paga do mundo em 2024, dinheiro certamente não seria o problema para ela. Divertir-se, então, foi a justificativa que me caiu como um tapa na cara, desses que a gente nem sabe que precisa. Passei a me questionar sobre essa necessidade subentendida de estarmos sempre provando para nós (e para os outros) que somos bons, que estamos em constante amadurecimento profissional, e por aí vai. A corrida desajustada atrás de premiações baseadas na opinião de meia dúzia de pessoas muitas vezes acaba parecendo o foco principal, e é aí que deixamos de lado algo tão importante: no fim de tudo, fazer aquilo que se gosta também não deveria ser sobre se divertir?
Parei para pensar sobre a última vez que fiz algo porque realmente aquilo me fez bem e me manteve leve. Repensei sobre todos os objetivos que me impus visando um currículo mais recheado, bem visto e... Chato, confesso. E o mais legal de tudo foi ver que eu fiz toda essa autocrítica a partir de um filme bobo e despretensioso, com um roteiro que poderia ter surgido de um trabalho de algum aluno do quinto ano, mas que mesmo assim teve atuações elogiadas pela crítica porque, provavelmente, os atores estavam simplesmente se divertindo.
Ah! Em tempo: por gravar este filme, Anne Hathaway recebeu 7 milhões de dólares.
Bem feito pra mim.