A tristeza parece entronizada neste exaustivo tempo de perdas sem fim. Aliás, não há quem esteja realmente bem neste mundo adoecido, em que a pandemia somente evidenciou um quadro mais amplo de desigualdades e deficiências. De olho no céu, a atual passagem do Sol por Sagitário vem iluminar uma compreensão maior de tudo o que estamos enfrentando. O signo simbolizado por uma flecha apontada para o alto convida-nos a refletir sobre o propósito da vida que levamos. Ou da vida que podemos levar.
Na sequência dos signos, é após as transformações conduzidas por Escorpião – entre perdas e revelações de ocultos potenciais – que podemos estabelecer, em Sagitário, uma visão conceitual que reorganize a vida e lhe dê sentido. Daí Sagitário ser o signo das filosofias e religiões, bem como das buscas do transcendente. Regido por Júpiter, o maior dos planetas, associado ao homônimo deus dos deuses da mitologia, Sagitário é a chama que nos motiva a ir adiante, com confiança e fé.
Desde a antiguidade, Júpiter é chamado de “o grande benéfico”, por seu efeito de ampliar nossa visão sobre a vida, trazendo entusiasmo e otimismo e, consequentemente, boa sorte. Os movimentos de Júpiter no céu dão pistas do que nos conduz a esse entendimento libertador. No dia 29 de dezembro, o planeta ingressará no signo de Peixes, do qual também é um regente, ao lado de Netuno. E em meados de abril de 2022, Júpiter e Netuno se alinham neste último signo do zodíaco, o que instaura a compaixão como dádiva máxima.
Esses posicionamentos do gigante do céu reforçam a busca por um sentido que nos “salve” do clima geral de desalento que ainda enfrentamos. Grafei a palavra “salve” entre aspas porque, embora seja exata para ilustrar nosso anseio pelo livramento de tantos infortúnios, também soa perigosa, pelo que carrega de projeções e idealizações sobre figuras redentoras. Precisamos de esperança e de alguma confiança no futuro, mas convém muita atenção ao que pode ser apenas ilusórias miragens. Promessas e visões são bem-vindas em tempos de crueza, desde que saibamos onde pisar com segurança.
O fato de Júpiter transitar entre os dois últimos signos do zodíaco – ainda se encontra em Aquário, chegando a Peixes no final de dezembro – faz a flecha sagitariana do sentido apontar para questões coletivas. É até óbvio: se vivemos problemas coletivos, devemos pensar em soluções de alcance coletivo também. Devemos ressaltar a noção de família planetária e de comunhão entre todos os humanos. Se há uma crise geral de valores na esteira da pandemia, eis também uma oportunidade de mudanças.
Como uma figura associada a Sagitário e a Júpiter é a do sábio e professor, evoco aqui o Dalai Lama, numa reflexão sobre o que pode nos trazer um bom futuro, mesmo sem garantias reais disso. Movidos pela esperança que anima, precisamos fazer o melhor uso possível do nosso
tempo. “Creio que a melhor utilização do tempo é a seguinte: se for possível, servir aos outros, a outros seres sencientes. Se não for possível, pelo menos procurar não prejudicá-los”.
Para o líder budista, o propósito de nossa vida deve ser positivo, pois não nascemos com a finalidade de causar problemas, de prejudicar os outros. Ele conclui: “Para que nossa vida tenha valor, creio que devemos desenvolver boas qualidades humanas essenciais – o carinho, a bondade, a compaixão. Com isso nossa vida ganha mais significado e se torna mais tranquila, mais feliz”.
E em Sagitário ou não, ser feliz é tudo o que se quer.