Nos últimos dias deste ano tão difícil, é quase obrigatório especular sobre o tom de 2021. A astrologia ligeira dos horóscopos costuma apontar um planeta regente para cada ano, num revezamento definido – e neste próximo será Vênus. Mas essa é uma leitura simplificadora, de simbologia muito sutil, já que não leva em conta a configuração real do céu do ano. Não dá para dizer que 2021 vai irradiar amor, beleza e paz por ser regido por Vênus. Na verdade, pelo arranjo próximo dos planetas, a paz andará em baixa: o novo ano deve ser marcado por muitos conflitos e situações extremas. Contudo, também deve permitir novos e necessários ajustes no mundo, após o fim de era decretado pelo traumático 2020. É o limiar de uma outra consciência.
O ano já começa com Júpiter e Saturno reunidos em Aquário, depois de ambos terem se alinhado a Plutão, em Capricórnio, durante 2020. As conjunções exatas dos dois gigantes do céu sempre apontam rumos coletivos, conforme o signo em que ocorrem. E Aquário é o signo do futuro e da liberdade, da ciência e das inovações, da humanidade como um todo e de suas diversidades, da fraternidade e das ações conjuntas. São belas e promissoras perspectivas, mas que esbarram em modelos cristalizados de ser e agir. Por isso, o tom do ano é de transição, e não de estabilidade.
As polarizações ideológicas podem chegar a níveis radicais. Não somente pela inevitável passagem da energia conservadora capricorniana para a inovação aquariana, mas também pelo ângulo tenso entre Saturno e Urano, ambos regentes de Aquário. Descontentamento e resistência são comuns a esses embates. Já na segunda quinzena de janeiro, o belicoso Marte se unirá a Urano, em Touro, indicando agitações e instabilidades em vários níveis. Outros picos semelhantes de tensão podem ocorrer em julho e em novembro. E tomara não venham como fúria da natureza.
Na mitologia, Urano, Saturno e Júpiter foram, respectivamente, avô, pai e filho, cuja sucessão no poder sempre envolveu violência. Os encontros dos planetas associados a esses deuses costumam reativar os conflitos geracionais entre o antigo e o novo, entre a repressão e a rebelião, a ordem e o caos. Nesse clima, a juventude pode afirmar sua força renovadora – ou sua impulsiva reatividade. Também terão destaque as revanches dos grupos sociais tradicionalmente oprimidos. Tudo muito intenso e urgente.
Estruturas mais conservadoras podem desmoronar, enquanto devem aumentar formatos alternativos e mais inclusivos de prestação de serviços e de parcerias. Muitas atitudes novas forçadas pela pandemia em 2020 se tornarão oficiais. Aquário e Urano regem a tecnologia, a descentralização, as redes e conexões. Quanto mais holístico, humanista e ecológico for o conceito a guiar as ações, melhor. É tempo de criatividade, de trocas e diálogos. A união será o melhor alicerce para as novas estruturas, como antídoto contra as polarizações.
Óbvio que os efeitos dos choques de forças de 2021 vão depender, antes de tudo, do desdobrar dos problemas em curso. Imagine a continuidade da pandemia no contexto de impaciência e resistência do novo ano! Mérito da ciência aquariana, a vacina já está por aí. E o próprio acesso a ela já expõe feridas crônicas por curar, como o egoísmo, a ignorância, a negação da realidade e a falta de consciência coletiva tão cara a Aquário. Mas não tem volta: o futuro se impõe, e passa pelo social. E é bom lembrar que sociedades são feitas de pessoas. Então, o que nos cabe fazer individualmente? Tema do próximo texto.