O Caxias subiu. Saiu do atoleiro da série D com um gol aos 42 minutos do segundo tempo e de pênalti. Eron cobrou bonito, uma sapatada no meio do gol, numa estranha mistura de pavor e fúria. Quando a bola estufou as redes da combalida Portuguesa-RJ, no último sábado (2), irrompeu do peito de 150 torcedores grenás, que foram até o estádio Luso-Brasileiro, no Rio de Janeiro, um grito poderoso, vigoroso, que ecoou de lá pra cá e se somou a outros milhares que não sabiam se riam ou se choravam e abraçados festejavam o fim do martírio da letra D.
Só que ainda faltava o apito final. Depois do gol vieram intermináveis 11 minutos de acréscimos. 11 minutos! Pra quem estava à espera desse acesso há oito anos, 11 minutos foi pouco. E se o árbitro desse mais 20, os grenás, dentro e fora de campo, resistiriam. O coração acelerado da torcida, em sintonia com a narração do Eduardo Costa, pelas ondas da Atlântida Serra, entrou em êxtase numa indescritível arritmia quando enfim terminou a partida e os grenás puderam comemorar em paz, suaves e imponentes como o voo de um falcão, o acesso à série C.
O desdém, a piada, o sarcasmo que escorre pelo canto da boca dos muitos adversários que a S.E.R. Caxias tem (e não é só o alviverde da rodoviária), só fortalecem ainda mais a torcida grená. No Gauchão, alguns desses adversários vão entoar cânticos sem graça e monocórdicos, dessa vez trocando a letra D pela C: “Uhu, série C”. No alfabeto, a letra C está mais perto da B e disso o alviverde bem sabe. Pode xingar. O desdém, a piada e o sarcasmo fortalecem e motivam ainda mais o torcedor grená.
Nelson Rodrigues, um gigante da crônica, perna de pau de carteirinha e Fluminense desde criancinha, escreveu, certa vez, sobre o que eu acredito ser o maior patrimônio do futebol brasileiro, o torcedor: “Eis a verdade, amigos: tratam do craque, tratam da equipe e esquecem o torcedor, que está justificando cuidados especiais”.
Pra mudar essa escrita, mais uma vez o Caxias faz história. Enquanto noutros clubes andam cobrando os olhos da cara pra assistir a uma partida de futebol, leio no Pioneiro que a direção grená disponibiliza ingressos entre R$ 5 e R$ 30 pro jogo desta quinta-feira (7), no emblemático, imponente e impávido estádio Francisco Stedile.
Ao torcedor grená, o mais apaixonado do Brasil, que enfrenta mais porrada e desilusões do que qualquer outro por aí, um abraço gigante, do tamanho da conquista do clube. Há troféus que não valem um tostão, mas há vitórias que valem por uma guerra. O acesso à C vale por uma guerra colossal.
Ao meu pai, o torcedor que viu o Caxias ser Campeão Gaúcho em 2000, mas não viu o acesso: eu vi e vibrei por ti, pai!