A coragem de ser imperfeita!
A designer Raquel Romani, filha de Raul José Romani e Lorena Tereza Andeglieri Romani (in memoriam), se afirma versátil e otimista com a vida e é a criativa a frente das joias e acessórios que apresenta em sua marca autoral e homônima, a Raquel Romani Artesanal Design. Formada em Comércio Exterior, nossa entrevistada do dia fez de seu hobby uma profissão que busca a autenticidade e o feito à mão em cada peça que desenvolve. Casada com Jovani Zini, Raquel apresenta sua produção em tendências que estão disponíveis no Le Marché Chic, em especial a edição Salon que Luciana Alberti realiza neste fim de semana no Pátio Eberle.
Qual sua melhor lembrança da infância e o que te remete a essa época? Passar as férias de verão na praia com toda a família. Aqueles dias ensolarados e divertidos junto aos meus primos, tios, pais e irmã. O que me remete a infância é o cheiro de grama recém aparada em dias de calor.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Não consigo me imaginar sendo outra pessoa, mas adoraria ter vivido na Paris da década de 1920 e ter conhecido Hemingway, Picasso, Dali, Zelda e F. Scott Fitzgerald, Josephine Baker, Cole Porter, Gertrude Stein entre outras figuras que por lá desfilavam. Enfim, conhecer de perto toda a loucura, beleza e genialidade deste período e seus personagens mais simbólicos no mundo da arte.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? Foi o momento em que decidi deixar a carreira na área financeira e a faculdade de Comércio Exterior para trás. Neste mesmo período faleceu meu pai e também uma prima muito querida, ambos de forma repentina e trágica. Entre tantas perdas e um certo vazio, iniciei um processo de aceitação, de autoconhecimento, de cura e busca pelo que fazia mais sentido para minha vida. Como este processo não tem fim e acho que o importante o caminho em sí, o titulo seria: A Coragem de Ser Imperfeita.
Como foi no início da sua carreira e quais as dificuldades que encontra nesse meio? Sempre tive apreço por trabalhos manuais. Desde cedo criava meus próprios acessórios, era uma forma de me expressar e dar vazão a criatividade. Com o passar do tempo veio a necessidade de desenhar, modelar e confeccionar cada peça, fazendo com que se tornasse única e exclusiva. A maior dificuldade é o pouco espaço para marcas autorais e handmade no mercado, mas estamos no caminho.
Qual sua primeira produção como designer profissional? Foram colares em cerâmica de polímero negra com aplicação em papel ouro e acabamentos com cordão encerado. Estava me aventurando em um nova técnica e com um material novo, então depois de queimar várias peças (risos) acabei por acertar o tempo de cura e a temperatura do forno, mas o resultado ficou incrível me apaixonei pelo processo.
Considera que a situação no mundo atual vai ajudar a ressignificar a noção de beleza? Acredito que estamos evoluindo, que estamos aprendendo a ver beleza na diversidade e no novo, deixando para trás os velhos conceitos que não fazem mais sentido algum, entendendo que a perfeição é inatingível e as imperfeições podem ser belas. É mais que necessário buscar uma beleza aliada à saúde e ao bem-estar físico e mental, ter um olhar generoso e valorizar coisas simples e cotidianas como o fazer manual e a própria natureza.
Qual a importância do design na criação de joias que traduzam a personalidade de quem as veste? É importante que seja inovador e ao mesmo tempo traduza os anseios das pessoas. Tenho clientes de várias faixas etárias, que usam peças em todos os momentos do dia e querem além de beleza, funcionalidade e preços acessíveis, então o design tem que ser criado para atender a esta demanda.
Como se mantém atualizada na sua profissão? Estou sempre pesquisando e aprendendo. Mantenho as portas abertas para novas ideias, técnicas, materiais, parcerias e sugestões. Faz parte do processo de criação ter um olhar atento ao cotidiano, pessoas e suas necessidades. Estar em constante evolução e ao mesmo tempo manter a identidade da marca.
Um ícone do design de joias... Gerda e Nicolai Monies.
Como se caracteriza o design que desenvolve? Existem elementos que definem a tua assinatura? Aposto em peças de design contemporâneo, com linhas simples e que não se limitam a um determinado estilo. Ao mesmo tempo gosto de brincar com texturas inusitadas e mescla de cores, acabamentos em couro, camurça, cristal e metal. A Coleção Ceramiche é toda em argila de polímero, modelada a mão e curada em forno. O processo é trabalhoso e demorado, mas respeito muito o tempo de criação para que cada peça seja única, marcante e elegante na mesma medida, pois este é o objetivo.
Existe algum designer cuja obra influencia teu trabalho? Gosto muito do trabalho do Ivo Minoni, da Kika Alvarenga, mas o que mais influencia é o cotidiano, a natureza e o movimento cultural como um todo,
Uma palavra-chave: respeito.
Gostaria de ter sabido antes... que dizer não pode ser muito saudável, tanto para quem fala quando para quem ouve.
Um hábito que não abre mão? Ler bons livros.
Como se manter saudável em meio ao caos? Tentar manter o equilíbrio físico e mental. Nestes tempos de pandemia o que me conforta e dá forças é estar junto ao meu marido e meus cães, é continuar produzindo, aprendendo, lendo e cuidando das minhas plantas. É importante manter o movimento, ainda que de forma desacelerada, mesmo sob a sombra do desânimo.
Quais músicas não saem da sua playlist? Tenho escutado muito Liniker, Johnny Hooker e Emicida.
Qual a primeira coisa que fará quando a pandemia passar? Viajar.