Se voltasse no tempo, naquele início de 1949, no centro de Caxias do Sul, ela diria novamente sim à diretora da Escola Municipal de Belas e às aulas de ballet que lhe encantaram aos três e poucos anos de idade. Foi assim que Dora Iracema de Resende Fabião começou a trajetória que a fez criar o Dora Ballet, escola que está festejando 60 anos.
— Eu tinha três anos e meio e a Dona Enir falou com minha mãe sobre as aulas. Na hora eu disse que queria entrar e logo comecei. Nasci dançando — diz, entre sorrisos, a mestra de gerações de bailarinas e bailarinos.
Olhando para as tantas aulas dadas e profissionais que ajudou a formar, Dora declara sem pestanejar que, sim, começaria tudo outra vez.
— A dança para mim foi e é tudo. A vida inteira dancei e dei aulas. Tenho olho clínico. Mas, para aprender ballet, tudo depende da criança e do apoio dos pais — ensina.
O aprendizado para a dança clássica se deu entre muitas idas ao Rio de Janeiro, além de estudos em escolas internacionais na Rússia, onde conheceu companhias de dança como o Bolshoi e o Kirov, além de temporadas na Inglaterra. Arrojada, ela trouxe o método da Royal Academy of Dancing de Londres para cá.
— O que aparecia de cursos para fazer eu fazia. É por isso que sei bastante de ballet — diz ela, que já montou peças de repertório como O Quebra Nozes, La Bayadère, Dom Quixote e Coppelia e tem paixão por Giselle.
Tanta história deriva em lições para as futuras gerações que queiram se dedicar ao ballet e à dança.
— Ser persistente é fundamental. E é preciso também gostar muito. E, claro, também depende do professor. Tenho a satisfação de ter formado gerações de bailarinos e bailarinas que estão pelo mundo, além de muitos professores. Gosto de perceber que estão melhorando — pondera a veterana.
Ciente do dever cumprido, ela reflete sobre a carreira:
— Na minha escola, sempre consegui o que quis. Comecei montando um espetáculo para o Dia das Mães, no Colégio São José, e não parei mais. Fui adotando um método meu, fazendo com que os alunos gostassem — relembra ela, 75 anos, filha de Mauro José de Resende e Altair Postermachi de Resende (in memoriam), casada com Paulo Luis Duarte Fabião, mãe de Juliana, Gustavo, Daniela, Susana e Márcia, e avó de Julia, Sofia, Maria Eduarda e Beatriz.
Toda essa turma é outra alegria de viver de uma das grandes personagens da dança caxiense. Com seu jeito expansivo, Dora conta que gosta de se encontrar com os netos semanalmente.
— Gosto de reunir todos para almoçar. Além disso, leio muito e, nos últimos tempos, aprendi a fazer tricô. Mas ainda gosto de dar aulas — diz ela, que passou a direção do Dora Ballet às filhas Susana e Márcia.
O legado do Dora Ballet, acredita sua fundadora, não é só familiar, mas se expande para a história da cultura caxiense. Tanto que sua trajetória vai virar tema de livro e de um documentário. E, merecidamente, ela festeja tantos feitos!
— A dança me deu tudo, prêmios, título de Cidadã Caxiense, e muito mais. Sou uma pessoa realizada. Todo mundo pensa que que é fácil alcançar e leveza do ballet, mas é difícil. Vim à vida para isso. Por isso não parei, continuo dando os meus palpites — declara Dora.
Para ser um bom bailarino:
- Perseverança
- Gosto pela dança
- Força de vontade