A trama indissolúvel!
A caxiense Rachel Vanin De Zorzi, filha de Mario David Vanin (in memoriam) e Vera Lucia Menegotto Vanin, transformou sua paixão pelo tricô em profissão. Dona da marca Rachi Vanin, ela encanta expressivo grupo da ala feminina da sociedade caxiense com peças autorais cheias de estilo, vida e criatividade. Casada com Leonardo Souza De Zorzi com quem tem dois filhos, Lucca Vanin De Zozi, 16 anos, e Victoria Vanin De Zorzi, 12, nossa entrevistada do dia é formada em Direito pela Universidade de Caxias do Sul e se destaca no mercado do feito à mão.
Que conexão lúdica faz com a sua infância? Visitar minha avó paterna Erica Aumond Vanin (in memoriam), no interior de São Marcos. Sempre que íamos lá, ela nos recebia já na porta do carro com um saquinho de milho para darmos para as galinhas. Eu a chamava afetivamente por “Vó das Cocorocas”.
O que é o bom da vida? É ter uma família e amigos para poder compartilhá-la.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? O nascimento dos meus filhos. E de título, daria Somos fios tramando a nossa própria história.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Voltaria como uma estrela de rock.
Gostaria de ter sabido antes... que direção é mais importante que velocidade e que cada pessoa tem seu tempo. A melhor hora de começar alguma coisa que se queira muito, é sempre o agora.
Qual é a sua história com a moda, como começou e por que decidiu seguir por esse caminho? A vida sempre foi generosa comigo. Me deu oportunidades para que pudesse escolher o que queria ou não para mim. Depois de me formar em Direito, fiquei um pouco sem rumo, pois estudei algo que pensei ser minha profissão, e quando me dei conta que não, fui caminhando, escutando minha intuição que me guiou rumo a moda. Aprendi a tricotar ainda criança com a minha avó materna Sedar Menegotto (in memoriam) e observei por muitos anos minha mãe tricotar blusões para mim e meus irmãos. Mas, foi há oito anos que fiz o meu primeiro casaco, despretensiosamente e de uso pessoal. Logo surgiram encomendas e com o apoio do Leo, assim como das minhas amigas, que foram as primeiras clientes, o que era um passatempo acabou tornando-se em um negócio.
Quais são as suas referências na área? Pessoas criativas e originais, independente de quem são ou aonde estão.
O que é ter estilo? É o resultado das nossas escolhas, é conseguir comunicar externamente aquilo que somos internamente. Vestir-se é sempre sobre atitude, conforto e confiança.
Um look inesquecível da vida? Meu vestido de noiva e o primeiro casaco feito por mim. Cada um marcando uma parte importante da minha trajetória.
Como funciona o seu processo criativo, desde a pesquisa até a concepção dos modelos? Busco referências no que gosto e transformo em algo próprio. Já dizia Pasquele Junior Natuzzi: “Se algo nos inspira, é porque amamos. E o que nos inspira toma forma, se torna forma, projeto, objeto.”
Busca estabelecer relações no seu trabalho com outras áreas, como design, arquitetura, arte? Não tem como falar de moda sem falar dessas áreas. Todas elas estão conectadas. Todo trabalho feito com maestria deixa de ser um apenas trabalho para ser arte.
De que maneira considera que o cenário atual está afetando o mercado da moda? Está modificando o nosso comportamento, nossas atitudes e a forma como vemos o mundo. Com a moda não é diferente. A busca por originalidade e menos quantidade é uma tendência permanente.
Quais os seus trabalhos ou projetos preferidos? São aquelas em que tenho liberdade para criar, aquelas que a tentativa e o erro me levam a algum resultado diferente. Normalmente, no meu processo de criação, quanto mais livre me sinto, melhor é o resultado.
Como lidar com bloqueios e se manter criativa na atual situação mundial? Me dou um tempo. A calma, a pausa e o silêncio também são parte do meu processo criativo. Reorganizo as ideias até que surja uma que me agrade. Vou tramando ponto por ponto, inventando, experimentando, cometendo erros e me divertindo. O som das agulhas é música para os meus ouvidos.
Acredita em um mundo mais coletivo? Sem dúvida. Um dia, li que o nosso universo é uma trama a partir de um fio único. Nada existe isoladamente. Temos que ser unidos na certeza de que só existimos a partir do outro e só sobreviveremos unidos na consciência da importância do coletivo.
Como enxerga a cena de moda autoral no Brasil? Com ótimos olhos. Existe um movimento de valorização da autenticidade e da originalidade, dando visibilidade a profissionais que utilizam menos recursos materiais e mais criatividade e afeto no desenvolvimento dos produtos.
Qual a importância da sustentabilidade nesse meio? Não há como falar de moda sem relacionar com sustentabilidade em pleno Século 21. É dever de todos nós encontrar maneiras de minimizar os impactos ambientais gerados no processo de desenvolvimento. Muitos produtores de lã vem tingindo a matéria-prima apenas com componentes naturais e minerais. Acredito que esse seja o caminho.
O que significa fazer moda para você e como isso reflete na sua vida pessoal? É colocar a minha identidade em cada peça. A cada ponto procuro traduzir um pouco de mim, além do desejo de ver as pessoas vestindo um tricô meu, que é um produto com valor afetivo muito grande. É muito bom sentir orgulho das coisas que a gente faz.
A era digital vem beneficiando a moda de diversas formas, tornando-a cada vez mais acessível ao público. Quais os pontos positivos e negativos de fazer moda numa era em que quase tudo gira em torno da internet? Como tudo na vida, evolução e tecnologia trazem aspectos positivos e negativos. Como positivo citaria a democracia das referências. Muita coisa boa e nova é criada todo dia, porém ao mesmo tempo, como em qualquer situação da vida, a simples cópia acaba sendo o atalho mais rápido e isso é o aspecto negativo.
Um hábito que não abre mão? Tomar café da manhã.
Quais são os seus planos para o futuro? Deixar meus filhos bem encaminhados, morar em uma casa e curtir a vida ao lado de quem eu amo.
A melhor invenção da humanidade? A que salvou a minha autoestima, o megahair (risos). Para a humanidade penso que a eletricidade foi um grande passo.
Quais músicas não saem da sua playlist? Não tenho uma playlist específica. Depende do momento e da ocasião. Mas Dancing in the Dark, do Bruce Springsteen não pode faltar.
Um filme para assistir inúmeras vezes: Doce Novembro, do diretor de cinema irlandês Pat O’Connor.
Uma qualidade: autêntica.
Um defeito: irritada.
Uma palavra-chave: fé.
Reflexão de cabeceira? Sua vida é sua história, escreva-a bem e edite-a com frequência.
Qual a primeira coisa que fará quando a pandemia acabar? Viajar.