Assim que se formou em Moda e Estilo na UCS, Manuela Horn, ou Manu Horn, foi para a França estudar maquiagem na Make Up For Ever Academy de Paris. Já vai completar 10 anos na capital francesa. Por lá, a filha do ortodontista José Aldo Horn e da artista plástica Carla Rech Horn, trabalhou como treinadora para as marcas Make Up for Ever, do conglomerado de luxo Louis-Vuitton-Moët-Hennessy e Smashbox, do grupo Estée Lauder. Para treinar as equipes em eventos, viajou pela Europa, Turquia, Israel, Índia e África do Sul. Atualmente trabalha como maquiadora freelance e também dá aulas de maquiagem na escola onde estudou. Um de seus trabalhos mais recentes foi para a campanha de verão da grife Saint Laurent.
Em que projetos está envolvida nos últimos tempos? Estive envolvida em projetos super legais no ano que passou. Tive a oportunidade de maquiar e fazer toda a direção artística para um lançamento da marca Kiko Milano. Trabalhei em editoriais de moda para revistas como @fuckingyoung e @schonmagazine. Fiz capas para a L’Officiel Brasil. E agora no fim do ano fui uma das assistentes da campanha verão 2021 da Saint Laurent.
O que é fundamental nesse trabalho com maquiagem? Para mim é maravilhoso, pois é também meu hobby. As duas coisas se confundem. Trabalhar com maquiagem é misturar produtos, criar cores, entender sentimentos, embelezar e dar confiança aqueles que sentam na nossa cadeira. E fundamental ter um “savoir-être” como dizem os franceses antes de qualquer habilidade técnica. E preciso ter jogo de cintura, aceitar que em um set, maquiador também é “pau pra toda obra”, ser humilde e sempre estar dez minutos adiantado. A isso adiciona-se uma boa técnica, a capacidade de aplicar a teoria na prática, a se adaptar. Ser precisa, meticulosa e organizada.
Como construiu essa trajetória na França? Prefiro conjugar o verbo no gerúndio. Ainda estou construindo minha trajetória. Com muita paciência, força de vontade e entusiasmo pelo que faço. Tentando fazer tudo sempre bem feito e sempre melhor. Quem trabalha com maquiagem está sempre aprendendo.
O que é fundamental no universo da maquiagem para a moda? Para quem quer trabalhar com moda, é essencial entender e conhecer moda. O fato de eu ter estudado o assunto na universidade me ajuda muito hoje, apesar de ser um assunto que exige atualização contínua. A moda é um sistema complexo, cíclico, demanda observação, estudo, referências. E quem é maquiador na moda tem que estar sabendo de - quase - tudo que está acontecendo. Entender como chamamos o zeitgeist ou seja o “espírito do tempo” em que vivemos. É importante em um editorial, por exemplo, poder entender todo o conceito do trabalho para propor uma maquiagem adequada. Usamos muito a moda como referência para a criação de novos looks de maquiagem. Fazemos muitas releituras. Se fosse resumir em uma frase diria que é fundamental ser curioso e nunca achar que já sabemos o suficiente.
Dá para falar em tendência de cores e estilos para 2021? Acho difícil pensar em tendências anuais de maquiagem. Penso que nos últimos anos fomos muito influenciados pela cultura da imagem promovida pelas redes sociais. Vemos muito e nos mostramos muito, nunca tivemos tantas imagens de nós mesmos produzidas instantaneamente. O que faz com que queiramos trabalhar a nossa aparência, maquiar nossos defeitos, nos mostrarmos mais bonitos. E para isso vale inclusive utilizar filtros nesse mundo que é virtual e efêmero que popularizou uma maquiagem usada para transformar, quase travestir quem a usa. Já não vemos a pessoa, mas sim a maquiagem que ela usa e eu acho que essa foi/é uma grande tendência, pelo menos para uma grande parte da nova geração com idades entre 17 e 25 anos.
E que outras questões surgem? Ao mesmo tempo acredito que essa tendência já está finalizando seu ciclo e que aos poucos já estejamos nos direcionando para uma maneira mais natural de se embelezar. Acredito que a pandemia contribuiu para isso também e nos fez andar de volta nos trilhos do “faça você mesmo, faça menos, faça melhor”. Para mim, a maior tendência que está por vir nos próximos anos, é a dos produtos mais naturais ou até mesmo ecológicos em maquiagem e em skincare e a utilização de acessórios como rollers, guachas, máscaras faciais. Esses beauty devices como são chamados, utilizados em casa estão ganhando cada vez mais espaço e se tornando uma alternativa aos procedimento cirúrgicos. Sou adepta! Uso em mim e nas minhas clientes e o resultado é ótimo, além de ser relaxante.
Qual imagem da moda brasileira ou dos criadores brasileiros na Europa? Infelizmente o europeu conhece pouco a moda do Brasil. Conhecem as Havaianas, estranham o tamanho dos nossos biquínis, pensam que nos vestimos todos com cores e estampas, o que em parte é verdade. Somos alegres e extrovertidos no Brasil, nossas roupas refletem isso. É uma pena que não conheçam mais nossa moda. Fazemos coisas lindas! Eu ainda prefiro comprar meus sapatos aqui, por exemplo.
Quais as boas lembranças de Caxias? Família, amigos, comilança e os Campos de Cima da Serra, onde vou encontrar meus “bichos” como diz meu pai.
Uma cor: tons de Burgundy.
Um estilista: Chanel, pela sua contribuição e visão e por ser fiel ao seu estilo. Isabel Marant, pelo estilo cool e leve. Acho que a moda precisa disso.
Um artista: Egon Schiele.