Contemporânea e sustentável
A professora e criadora de moda caxiense Débora Bresolin Bregolin, 33 anos, filha de Dirceu Bregolin e Janete Bresolin Bregolin, faz mais. Escorpiana do dia 5 de novembro, ela foi vencedora do 26º Prêmio UCS/Sultextil do curso de Design de Moda da Universidade de Caxias do Sul, em 2012. Atualmente, integra o corpo docente do Grupo Uniftec e tem se dedicado ao projeto Pi.Co (@use.pi.co), uma revolução de pensar, de vestir e de ser criativo, com roupas confortáveis. Conheça mais sobre esta apaixonada pelo universo da moda inclusiva e sua narrativa!
Qual sua lembrança mais remota da infância? Minha infância foi repleta de experimentações e arte, lembro como amava misturar flores, folhas e criar chás. O gosto que me remete a essa época é dos biscoitos de polvilho doce que minha avó, Estherina Grando preparava e que, carinhosamente apelidei de “rosas brancas”.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Com toda a certeza, da minha mãe, para poder ter a força que ela tem e ser um exemplo de personalidade feminina.
Gostaria de ter sabido antes... que amadurecer e envelhecer são as coisas mais incríveis da vida.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? Minha eterna desconstrução e aprendizado. Acredito que o aprender sempre foi a melhor descoberta para eu poder aceitar que não sei tudo e que tudo tem um tempo para acontecer.
Qual é a sua história com a moda, como começou e por que decidiu seguir por esse caminho? Parece clichê, mas minha avó costurava e isso não foi o motivo, ela tinha uma relação muito dolorosa com a moda. Na época e por morar no interior era muito difícil costurar. Os insumos, materiais eram caros e de difícil acesso, a máquina era manual, não tinha energia elétrica, e esse sentimento ela acabou passando para mim. Compreendi que nasci para isso quando comecei a entender a importância e a força das mulheres da minha família, que de uma forma ou de outra sempre valorizaram e praticaram algum fazer manual e contribuíram para que gostasse da área. Decidi por esse caminho porque acredito que através dele a gente pode melhorar pessoas e o mundo a nossa volta.
Quais os seus trabalhos ou projetos preferidos? Meu Trabalho de Conclusão de Curso, que me deu a chance de viajar para Paris, a primeira pesquisa de comportamento que fiz para um escritório de São Paulo, que me oportunizou mostrar o quanto amo esta curiosa área e a minha dissertação, que me possibilitou ter um entendimento completo sobre moda.
Quais são as suas referências na área? Ronaldo Fraga, Jackson Araújo, Carol Barreto, Julia Vidal, We’e’ena Tikuna, entre tantos novos criadores.
Busca estabelecer relações no seu trabalho com outras áreas? Desde o início da minha formação, sempre estabeleci relações com diversas áreas e consolidei isso com muita força no mestrado, quando alinhei a área da linguística e comunicação por meio da semiótica e dos estudos culturais no entendimento da antropologia e das relações com o que vestimos.
O que significa fazer moda e como isso reflete na sua vida pessoal? Não consigo mais viver sem criar. A moda e o design são os pilares de quem sou e são pelo que eu luto e acredito diariamente. A moda é sobre comunicação, é sobre mostrar para o mundo o que somos por dentro, refletido no externo. A moda me permite inspirar meus alunos e mostrar para todas as pessoas que existe um mundo possível e acessível e que está longe de ser superficial. A moda une, conecta, cria e luta por um mundo melhor, ela é responsável por empregos, mudanças, discussões, e pelo brilho nos olhos de tantas pessoas. Ensiná-la é como dar vida de verdade aos sonhos de cada aluno que tenho.
O que é ter estilo? É estar confortável dentro da gente. O externo acaba sendo apenas uma representação do nosso potencial interno.
Como funciona o seu processo criativo e de pesquisa? Consumo conteúdos que não estejam diretamente ligados à moda e ao design, para sempre ampliar minha visão. Como gosto de ler revistas, livros e portais de informações, acabo me mantendo atualizada sempre, bem como memes, tendências e assuntos que muita gente pode considerar inúteis, são fundamentais no repertório de um bom referencial para criar. Música, arte, cinema, arquitetura, gastronomia e comportamento são o topo da lista de pesquisas.
Como lidar com bloqueios e se manter criativo na atual situação mundial? Tentei, desde sempre, me manter produtiva. É preciso abraçar cada sentimento. Parar, descansar e aceitar que teremos dias que não seremos criativos e está tudo bem. Acredito que respeitar o meu tempo tem sido a melhor maneira de lidar com bloqueios.
Como enxerga a cena de moda contemporânea no Brasil? Vejo um mercado em mutação. Acredito na moda como ativismo político, e como bandeira de causa. Ela não pode mais só olhar para fora e achar que no Brasil não somos bons o suficiente, temos marcas locais e nacionais incríveis que vêm mostrando que a moda não é feita somente por pessoas brancas, cis e dentro dos padrões conhecidos. A moda contemporânea é diversidade, inclusão e principalmente preocupação com o sustentável.
E qual é a importância da sustentabilidade? Costumo dizer que a sustentabilidade não é mais diferencial para as marcas de moda, a sustentabilidade é obrigação e ela não se trata apenas e somente do meio ambiente, ela fala de pessoas, de preocupação com o social, de inclusão, de ensino amplo e diverso, fala de papeis de protagonismo na moda. A sustentabilidade está em valorizarmos todos os pilares que envolvem a criação, a história, o ensino, o consumidor final, o produtor, enfim, todas as pontas da cadeia produtiva. A sustentabilidade é obrigação.
Como anda o mercado da moda? A moda foi afetada em cheio nesse momento e rapidamente se reorganizou. Acredito que as marcas que estão esperando a pandemia passar e que não buscarem propósito, inclusão e preocupação com o sustentável, vão perder cada vez mais espaço.
Quais conselhos daria para quem quer ingressar nessa profissão? Estudem e nunca se cansem de aprender. Estamos em eterna desconstrução e aprendizado.
O quanto importante foi a experiência da graduação? A graduação construiu a base da profissional que sou, me deu estruturas bem sólidas dos caminhos que decidi seguir. Foi nesse caminho que entendi que minha paixão e missão é inspirar pessoas por meio do ensino e das descobertas internas de transformação pessoal.
Quais são os seus planos para o futuro? Seguir lutando por um ensino de moda cada vez mais abrangente e menos excludente.