O mundo encantado de Ana!
Jovem e dona de um festejado talento, Ana Maffassiolli Dullius, filha de Alexandre e Lia Dullius, foi a revelação do ano durante o 41º Concurso UCS/Sultextil do curso de Moda da Universidade de Caxias do Sul. Nesta conversa com a coluna, Ana dá mostras mais uma vez ao que veio, compartilhando conteúdo e reflexões em torno do tema no qual tem se debruçado. Atualmente ela é Diretora de Comunicação e Marketing da grife de moda esportiva Rolamoça. Conheça um pouco mais desta bela e inventiva leonina!
Qual sua lembrança mais remota da infância e que aroma te remete essa época? Brincar com meus amigos na rua onde eu morava. Lá havia cheiro de natureza.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? Não escolheria outra vida que não a minha. Sou muito grata a tudo!
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? Vencer o 41º Prêmio UCS/Sultextil e ser laureada na minha graduação foi o que desejei desde o início. Resultado de muita dedicação, mas também de uma identificação enorme com tudo o que aprendi. O título seria: Tudo vale a pena.
Qual é a sua história com a moda, como começou e por que decidiu seguir por esse caminho? A moda sempre esteve presente na minha história. Meus pais, proprietários da ROLAMOÇA, constantemente compartilhavam novidades, dúvidas e decisões comigo. Na verdade, durante a minha infância a empresa era em nossa casa, portanto o contato era diário. Eles falam que eu adormecia sobre os tecidos.
Quais os seus trabalhos ou projetos preferidos? Qual o motivo? A coleção Neo Nômade, meu TCC, é o meu trabalho preferido em virtude da profundidade de todas as etapas, desde a pesquisa até a produção das peças oficiais. Retratar o espírito livre do nômade contemporâneo em um momento em que nos vemos tão privados da liberdade trouxe uma nostalgia e uma reflexão sobre a vida. Além disso, desenvolvi uma estampa exclusiva para simbolizar as aventuras vividas pelo viajante! Outro projeto marcante foi o Cootegal, concurso em que fui destaque com menção honrosa.
Quais são as suas referências na área? Minha mãe foi minha primeira e maior referência no mundo na moda! Uma mulher criativa e muito moderna. Aprendo todos os dias com ela, também sou uma admiradora das criações encantadoras da Iris van Herpen, do olhar atento do Jacquemus e do inspirador Walter Rodrigues.
O que é ter estilo? Ser confiante e estar seguro. A pessoa que se sentir assim emana uma energia incrível e não há tendência de moda que realce mais a beleza de alguém.
Busca estabelecer relações no seu trabalho com outras áreas, como design, arquitetura e arte? Sim, acredito que a interface com outras áreas enriquece muito o trabalho. Hoje, como Diretora de Comunicação e Marketing da ROLAMOÇA tenho um olhar sobre como o processo criativo também está inserido nessas áreas. O método de desenvolvimento é muito similar, o que muda é o produto final.
Como funciona o seu processo criativo, desde a pesquisa até a concepção dos modelos? Valorizo muito a coerência entre tema e coleção, então dedico um tempo considerável para a pesquisa, até porque sei que na sequência tudo vai fluir com mais facilidade e sentido de ser. Começo com uma imersão, buscando referências bibliográficas, filmes, documentários, estilistas, relações com outras áreas, mídias sociais. Contudo, além da pesquisa, tem o fator que nós, como criadores, agregamos ao conceito. Afinal, o que eu quero fazer? E o que sei fazer muito bem? Isso é algo que vai ficando claro durante a graduação, e para mim se sobressai a moda esportiva. Na sequência faço os croquis e compartilho com profissionais da área para ter mais opiniões sobre o caminho que estou seguindo. Depois disso, é hora de rever a fundo os modelos para saber como executá-los. Faço isso ao realizar o desenho técnico, atentando para a modelagem e costura. Tendo isso estruturado, acho imprescindível fazer peças piloto, pois o que na imaginação parece ideal, normalmente pode ser aprimorado ao ver protótipo.
Como enxerga a cena de moda contemporânea no Brasil? Fazer moda no Brasil não é fácil, mas acredito que estamos evoluindo constantemente e aprendendo a valorizar. Penso que esse processo é extremamente importante, pois isso impacta diretamente no reconhecimento dos profissionais e das empresas com valores sérios.
De que maneira considera que o cenário atual está afetando o mercado da moda, e como isso vai impactar no futuro? O mercado da moda foi prejudicado pela pandemia, tanto pelo atraso e falta de matéria-prima quanto pelo desemprego crescente. A moda possui uma considerável parcela de mão de obra feminina e me entristece ver como muitas mães não conseguiram encontrar outra alternativa senão deixar seus empregos para cuidar dos filhos. Olhando por outro lado, acredito que estamos sendo mais criativos dentro das possibilidades que temos. Por exemplo, ao utilizar o estoque, negociar prazos e, enfim, buscar outras alternativas.
O quão importante foi a experiência da graduação e o que você pode compartilhar a respeito desta trajetória? Foi um crescimento e tanto para mim. Fazer Moda na UCS era um sonho, pois tem ótimos profissionais como referência. Acredito que essa formação me provoca a ir além, ser inquieta e buscar evoluir sempre.
Quais são os seus planos para o futuro? Ainda estou organizando as ideias para entender qual vai ser o próximo passo em meio a tantos que gostaria de dar. Em meus planos, estão a vontade de fazer um curso em Milão e me aprofundar no Marketing, área que está diretamente relacionada.
Na sua opinião, qual a importância da sustentabilidade nesse meio? Enorme! Vivencio isso constantemente na ROLAMOÇA, pois a empresa tem foco na sustentabilidade, promovendo diversas ações que concretizam seu compromisso com o meio ambiente e mostrando que é possível fazer diferente. Esse assunto está cada vez mais presente, inclusive na faculdade temos a disciplina de Brasilidade e Sustentabilidade, na qual discutimos sobre o ciclo de vida do produto, analisando o impacto de todos os processos: criação, produção, transporte, venda, uso e descarte. Nesse sentido, o consumidor assume seu papel de protagonista, ao escolher e valorizar marcas que se importam com o presente e futuro.
Quais os pontos positivos e negativos de fazer moda em uma era em que quase tudo gira em torno da internet? Penso que a internet democratizou a moda. É incrível podermos assistir aos desfiles das semanas de moda em tempo real, além de curtir, comentar, compartilhar e, até mesmo, adquirir! Também acredito que a internet pode ser um meio de informação muito interessante para o consumidor e isso provoca os profissionais a evoluírem ainda mais. Ao mesmo tempo, a internet vem propagando muitas fake news, sem filtros nem tolerância. Acredito que o equilíbrio é a chave.
O que considera que são mitos da profissão? “Moda é fútil” – Acho que nessa entrevista, em que assuntos como trabalho colaborativo, coletividade e sustentabilidade foram abordados, é possível perceber o quanto a moda se envolve com a sociedade. “É um mundo encantado” – O profissional da moda executa um trabalho tão sério e comprometido, quanto todos os outros. É lindo e encantador, porém não apenas.
O que significa fazer moda e como isso reflete na sua vida pessoal? Significa traduzir o tempo em que vivemos em roupas. Adoro tudo o que faz parte do meio criativo, acho que ele nos proporciona uma liberdade incrível. Como criadora, gosto de pensar que a roupa pode ser um facilitador do nosso dia a dia. Por fim, tudo me inspira a fazer moda e ela me provoca a ir além.
Quais conselhos daria para quem quer ingressar nessa profissão? Encontre mentores, busque o desenvolvimento profissional, seja curioso e inquieto!