Dono de um universo de sabores!
O chef de cozinha William Williges, 28 anos, filho de Fernando e Rosane Williges, convive com o fazer gastronômico desde a infância. Já na adolescência, explorava criativamente os alimentos, mas não via a culinária como um caminho profissional, então optou pelo Direito, conciliando a faculdade com um emprego na cozinha, sem ter certeza de sua vocação. Ao conhecer o trabalho de Ferran Adrià, um dos chefs mais respeitados do mundo, famoso pelas criações moleculares e por servir sequências com dezenas de pratos, se tornou uma grande inspiração para o nosso entrevistado desta sexta-feira. Mas a mudança ocorreu quando descobriu que teria uma filha, Fernanda Santana Williges, hoje com cinco anos, diz que não poderia deixar de se permitir escolher o caminho mais sustentável para a menina. Assim, se foram as leis e a função entre forno e fogão permaneceu. Em 2017, quando já havia passado por diversos restaurantes e acumulado conhecimentos, participou do reality show MasterChef e elevou a torcida gaúcha. A vitória veio depois, eliminado do programa, retornou a Caxias do Sul e decidiu jogar pelas próprias regras. Como a sorte sorri aos audazes, o Restaurante Boaz é a concretização de um sonho oferecendo experiência e criatividade. Conheça a receita de vida deste taurino renitente!
O que te motivou a empreender com a criação do Restaurante Boaz? O desejo de levar a alta gastronomia para as pessoas. De mostrar que não é complicada e que também existe por aqui. Que o público tivesse a oportunidade de provar ingredientes novos e de lugares diferentes. E também de viver experiências gastronômicas ao redor da mesa distintas das que já haviam.
Que sabor te remete a infância? As comidas que minha nona preparava, a vó Loide Denardi Williges. O feijão que ela plantava e cozinhava na panela de ferro no fogão à lenha. Nem preciso falar da polenta, claro, que a da nossa vó sempre será a melhor. Os biscoitos amanteigados também lembram muito a infância. Hoje, por questões de saúde e idade, ela já não cozinha mais.
Ao lado de quem gostariam de ter sentado na época da escola? Ao lado do escritor norte-americano Napoleon Hill (1883-1970), com certeza teria me poupado diversos perrengues no decorrer da vida.
Traço marcante de sua personalidade? Persistência.
Gostaria de ter sabido antes... do poder do agora, o quanto é importante vivermos o presente, um dia de cada vez, não se culpar pelo que já passou e não sofrer com o que está por vir, apenas viver o presente.
Teve algum marco importante ou momento decisivo que influenciou a trajetória? Sim, com certeza a participação no programa Masterchef Profissionais, em 2017, com um time da pesada de chefs do Brasil inteiro e claro os queridinhos jurados. Foi um aprendizado enorme e um divisor de águas na minha vida.
O que mudou após a participação no Masterchef Brasil 2017? Foi uma girada de chave. Uma experiência transformadora. Ter o convívio com todos os chefs e morar em São Paulo, foi enriquecedor em diversos sentidos. Me deu maturidade para os anos que vieram. E me deu coragem para abrir o próprio restaurante.
Cozinhar é uma ciência? Sim, tudo tem um porquê, um motivo, e a ciência sempre esteve presente, explicando como as coisas acontecem, como transformar óleo e ovo em um molho maionese delicioso.
O Brasil na gastronomia é: riquíssimo em ingredientes e biodiversidade. Um universo de experimentações para os cozinheiros.
Quem são os mestres na sua área? Dou esse crédito aos irmãos Alber e Ferran Adrià. O fato de terem mudado a cozinha como a enxergamos hoje. O fato de terem revolucionado a experiência de ir ao restaurante, de se alimentar, de vivenciar um menu degustação, de trazer novas técnicas e muitas outras coisas mais. Acredito que exista um antes e depois dos irmãos catalães.
Ingrediente favorito: sem dúvida, o alho. Tenho até uma tatuagem dele.
Um tempero de família: ervas frescas, salsinha e manjericão.
Seu prato predileto: difícil eleger um só, porém o tucupi é um ingrediente que mexe comigo, então talvez seria o pato no tucupi.
O que é harmônico no sabor? Acredito que o harmônico é utópico, mas podemos seguir o nosso paladar pelo viés dos gostos que sentimos. Azedo, amargo, salgado e doce. Buscar um equilíbrio entre eles é a chave da harmonia. Mas não abro mão da acidez na comida, ela é extremamente importante.
O que é antagônico no sabor? Não respeitar o equilibro dos ingredientes, o gosto que eles têm, por exemplo, combinar dois ingredientes de natureza doce, tornam o prato enjoativo.
A comida do futuro será: aquela que nutre e é saborosa ao mesmo tempo.
O que significa ser um chef estrelado? Ter a consciência das pessoas que estiveram com você até chegar onde chegou. Um chef nunca atinge o objetivo sem seu time. Valorizar um chef é valorizar também a sua equipe e o seu trabalho.
Você tem fome de quê? Das pessoas cada vez mais buscarem se alimentar melhor, trocar as refeições de sempre nos lugares de sempre e se permitirem viver novas experiências, provar novos pratos, novos sabores.
Existe um limite na cozinha? Acredito que não. Estou pesquisando continuamente sobre cozinhas do mundo inteiro, e vivo me impressionando com o trabalho que os chefs tem executado. São de uma criatividade sem limites, sem precedentes. Não paro de ser surpreendido e não consigo enxergar um limite para a cozinha.
Um outro talento que ninguém conhece: tocar teclado.
Filme para assistir inúmeras vezes: todos do diretor de cinema norte-americano Quentin Tarantino.
Quais músicas não saem da sua playlist? Tenho um gosto musical bem eclético, escuto de tudo um pouco, mas as músicas mais antigas parecem sempre as melhores.
Natureza ou cidade? Natureza, é claro.
Um hábito que não abre mão? Escutar minhas músicas, com um bom vinho e uma boa companhia.
O que te inspira? Muito vem da natureza. Outra parte vem das pessoas, das minhas memórias e também da música.
Qual sua receita de sucesso? Fazer o que se ama.
Uma mensagem aos leitores: busquem retomar os momentos e a boa mesa com mais frequência, se reunir com seus amigos e familiares, com uma boa comida e um bom vinho. Estes momentos sempre nos trarão histórias para contar.