O escritor Franz Kafka escreveu em seu diário: “O homem foi expulso do paraíso pela impaciência”. Se vivesse hoje, veria sua afirmação ganhar um caráter de verdade incontestável. Nossa época, com seu ímpeto de tudo absorver, sob o risco de se achar um alienado, ignora o fato de as coisas necessitarem um tempo de maturação. Como somos invadidos por novas e múltiplas possibilidades, temos a premência de agarrar com as mãos o que nos é oferecido, sem saborear os frutos das colheitas. À luz da filosofia, para algo adquirir estofo dentro de nós, é preciso um longo processo de meditação para, posteriormente, transformar algum conceito em comportamento. A mudança de um hábito, por exemplo, exige que nos reclinemos com calma e perseverança sobre ele, observando-o com lupa. Caso contrário, ele reforçará a si mesmo. Vale para diversas instâncias da vida. A pressa nos leva a fazer escolhas erradas, normalmente. Sem ponderar, refletir, estaremos incorrendo no erro de desobedecer à razão – e ela é um guia mais seguro para escapar do arrependimento.
Sei o quanto essa tomada de decisão é difícil. Recentemente, um amigo pelo qual nutro profunda admiração, desmarcou um encontro quinze minutos antes do horário acordado. Confesso: fiquei furioso. O impulso inicial foi o de enviar uma mensagem com palavras não exatamente simpáticas. Consegui respirar fundo e me conter. Passei os minutos seguintes tomado pelo sentimento de frustração e inclinado a ver nele só esse aspecto de irresponsabilidade. Sei de suas inúmeras qualidades e foi nelas que meu olhar repousou. Passados alguns dias nos vimos e, com o espírito aquietado, pude lhe dizer das minhas impressões. O fiz com toda a tranquilidade possível, expondo-lhe alguns argumentos. Ele me ouviu e apresentou os seus. Consegui entender a motivação, considerando-a consistente. O importante, enfim, foi ter me permitido esperar, trocando a raiva pela compreensão. Importa menos saber quem estava certo e mais a constatação dos benefícios obtidos por um diálogo civilizado, sem estar contaminado por ondas emocionais.
Essas vitórias obtidas através do esforço e da tenacidade nos ajudam a refinar o caráter, desenvolvendo maior resiliência. Transformar a ansiedade e o desejo de nos impor sobre o outro em comedimento é um exercício filosófico. Talvez fracassemos na primeira vez ou nas seguintes mas, aos poucos, com perseverança, isso se tornará absolutamente natural. Respirar várias vezes e só então agir. Pensar com lucidez as nossas ações enquanto elas ainda estão sendo construídas na mente. É um projeto ao qual devemos destinar largas horas do dia. Caso contrário, deixaremos o ego nos dominar. E, convenhamos, ele costuma ditar a maior parte das condutas humanas.
Uma pessoa livre persevera, analisa, e só depois age. Esta é a chave para alcançar a paz e a serenidade, propósitos maiores a que devemos aspirar.