Interessante esta palavra. Intoxicados de tanta informação. Ouvi-a em um recente curso de oratória. É um neologismo e traduz o comportamento recorrente na época atual. Nada é suficiente. Precisamos de mais e mais, sob o risco de ficarmos por fora. Lembro de ter lido, já faz anos, que o cérebro é incapaz de dar conta dessa overdose. Ele sequer foi programado para isso em seu processo evolutivo. E então a gente estranha ao descobrir que o número de pessoas ansiosas vem aumentando exponencialmente. Acrescente o medo de nos sentirmos alheados, pois a maioria dos comentários em nossas conversas dizem respeito aos acontecimentos de ordem imediata. Já passei por alguns pequenos constrangimentos. É comum um colega me dizer, depois de se recuperar do susto, achar impressionante o meu desconhecimento disso ou daquilo. Mas não quero me colocar no centro da reflexão. A análise vai se ater aos sintomas característicos destes dias hiperconectados.
Vou contar algo curioso. Durante uma palestra para alunos adolescentes, fiquei impressionado com o quanto eles sabiam — até das ocorrências bem triviais — do que estava se passando no mundo. Sobre notícias, guerras, tendências, essas coisas que invadem o cotidiano. Agora, ao serem instigados a pensar sob um ponto de vista analítico, a dificuldade aparecia. E prossegui. Indaguei-os se já tinham tido uma crise, percebendo-se perdidos. A quase totalidade levantou o braço. Eles absorvem em excesso no seu dia a dia. Aí começam a transbordar e vem a certeza de, mesmo assim, precisarem seguir correndo atrás do que está por aí. Sei lá, é raro me impressionar com pessoas super atualizadas. Fico encantado ao perceber a habilidade de alguém investigar, de forma inteligente, determinadas situações ou condutas. Mas entendo: deve ser difícil, para tantos, ir contra a maré. Exige enorme esforço e uma forte convicção para propor-se a esvaziar um pouco a mente. Nem se trata de postar-se à margem, mas sim reduzir a compulsão de estar sempre a par de tudo.
A ideia de se comunicar, estabelecer vínculos, passa ao largo desse excesso. Atribuo grande importância ao desenvolvimento de capacidades atreladas às emoções. Esta é, a meu ver, a verdadeira conexão a ser feita. O problema: somos instados toda hora a acreditar na necessidade de estar por dentro, como se fosse uma espécie de virtude a ser praticada. Preservo-me lendo muito e selecionando bons filmes para ver. E encontrando amigos propensos a diálogos de viés filosófico. Aos outros devo parecer um chato, fazer o que. E, confesso, já nem estou disposto a gastar meu tempo de modo superficial. Sinto urgência em aprender a arte de viver, à maneira dos gregos antigos. Pretendo honrar o fato de bilhões e bilhões de neurônios trabalharem para manter o meu cérebro funcionando. O propósito é continuar construindo lentamente o que chamamos de alma.