Atire a primeira pedra quem nunca disse essa frase. Ultimamente, então, costuma ser proferida com assustadora frequência. E não é para menos. O número de informações recebidas em um dia é maior, por exemplo, da quantidade que o homem medieval tinha acesso em sua existência inteira. E haja cérebro para tal armazenamento. Portanto, acostume-se aos sucessivos lapsos de memória com os quais você se deparará. São tão recorrentes a ponto de se pensar serem de ordem neurológica. Na maioria dos casos, costuma ser apenas o resultado da sobrecarga de estímulos absorvidos. Mesmo sabendo que grande parte das agendas foi transferida para o celular. A questão, mais uma vez, reside em seu uso indiscriminado. Embora ele sirva como uma espécie de HD externo, o acúmulo de dados e notícias onipresentes provoca uma saturação na circuitaria interna. Normal sentir-se apavorado diante do mar de lacunas. O problema está em não mudarmos os comportamentos, fazendo da repetição algo angustiante de ser experienciado.
Até onde isso, verdadeiramente, acelera algum processo de degeneração psíquica é arriscado afirmar. Caminhamos a passos largos para ser uma geração gravemente afetada neste quesito. Recordemos do fato de, durante centenas de anos, termos transmitido o conhecimento para os descendentes através da oralidade. O esforço na preservação do conteúdo identitário forçava a expansão da magnífica capacidade de lembrar. Sim, pois o que nos parece absolutamente comum, por assim dizer, necessita do acionamento de mecanismos com uma complexidade assombrosa. Jamais cansarei de me espantar com a engenhosidade do corpo humano. Sem hesitar, chamo-o de milagre. Em meio a uma séria de constatações, precisamos reconhecer a presença de elementos nocivos na organização do mundo contemporâneo, causando malogros ao acionar mesmo algumas referências ligeiras.
Somos filhos do nosso tempo. Se nos privamos das mínimas condições necessárias para a manutenção de uma boa saúde mental, certamente ocorrerão falhas em um ou outro conduto no ato de rememorar. Tento tratar disso mantendo certa disciplina ao escolher a maneira como gastarei minhas horas. Uma coisa é o estímulo, outra é a saturação. O excesso conduz à exaustão e, por sua vez, ela pode levar ao desmoronamento. Se há uma chance de sair da estafante roda-viva em que nos colocamos, será a de nos afastarmos um pouco do desejo de se apropriar de tudo — característica marcante da época atual. Detalhe: queixas dessa natureza não vêm somente de pessoas idosas: a gurizada padece desse mal em larga escala.
Alguns recorrem a remédios para sanar tal situação. Eles ajudam, mas dificilmente resolverão em definitivo. A exaustão tomou conta de nós e ela é a responsável por tantos se sentirem à beira de um colapso.
Talvez uma forma de resolver isso seja... o que eu estava dizendo mesmo?