O escritor irlandês Oscar Wilde é o autor da magnífica frase acima. Ainda estou para vivenciar uma situação que a desminta. Quando falo do outro, mesmo sem saber, faço referência a mim. Temos problemas em reconhecer falhas em nós. Então os transformamos em crítica direcionada para os demais. O problema em assumir alguns de nossos comportamentos faz com que usemos desse estratagema mental para suavizar características francamente negativas. Deixamos para o amigo ou o desconhecido olhar-se no espelho, sem considerar sua dinâmica bumerangue: vai e volta. Notei essa dificuldade ao me dar conta de como resisto assumir minhas próprias deficiências. Para aliviar o sentimento de culpa ou de frustração, ignoramos determinadas evidências e jogamos sobre terceiros a responsabilidade, apontando um dedo acusador. Sugere-se estar ciente para diminuir seus efeitos deletérios. Lembremos: depois de um hábito instalado, é necessário persistência e a contenção do ego para conseguir erradicá-lo.
Tais episódios, vistos de fora, podem até parecer engraçados. Depois de conhecer razoavelmente bem alguém, é possível determinar as qualidades e defeitos que o definem. Afinal, somos bastante previsíveis e é só prestar atenção para notar as artimanhas usadas para se salvaguardar. Vai aqui um exemplo bem recorrente. Preocupar-se com a vida sexual alheia é uma clara evidência do quanto desejaríamos estar em seu lugar. Por que iria nos incomodar como se comportam na cama? Já dá um trabalho enorme entregar uma boa performance, imagine direcionar tanta energia fazendo relatórios inquisitoriais. E, convenhamos, agimos de igual maneira em diversas áreas da existência. Ao invés de tentar suprir carências ou a manifestação do despeito, optamos por esse caminho. Só piora as coisas, você já deve ter percebido. É um evidente aparato de sobrevivência emocional, pois é bem raro constatar isso e não trapacear. Chamemos em nosso auxílio os terapeutas com suas admiráveis técnicas.
A maturidade (em determinados casos) costuma enfraquecer um pouco essa tendência tão humana. No entanto, há de ser precedida de determinação e persistência. Caso contrário, a mente, sempre tão ardilosa, encontrará um jeito de argumentar a seu favor. Praticamos esse jogo como uma forma de nos proteger. Nem todo mundo tem uma estrutura emocional tão bem resolvida a ponto de dar-se conta e aceitar as próprias imperfeições.
Se tiver algo de positivo para falar de determinada pessoa, diga em voz alta; caso contrário, o mais aconselhável é permanecer calado. Há tanto a analisar e refletir em relação a si mesmo! Mas se a tentação se sobrepuser ao bom senso, sugiro o infalível exame de consciência. Ele lhe dará bons indícios da presença de um mecanismo primário chamado inveja. Não permita que ela determine a sua linguagem e também a sua conduta.