Há duas maneiras de aprimorar nossos comportamentos: manter vigilância constante na forma de agir e pensar e conservar uma postura de saudável cobrança em relação a si mesmo. A segunda, no entanto, passou a adquirir um caráter de obsessão diante desse mundo hiperconectado, em que tudo passa pelo escrutínio público. Além disso, introjetamos a ideia de aperfeiçoamento não como o admirável procedimento para esmerilhar defeitos, mas envoltos no medo de sermos substituídos na preferência coletiva por alguém mais hábil. É um problema, mas pode ser resolvido se mantivermos sob perspectiva a ideia de até que ponto vale a pena investir tanto tempo e energia em busca de um propósito nascido da necessidade gerada pelo olhar do outro. Nunca deixei de me perguntar, ao longo da vida, o que posso fazer para ampliar a prática das virtudes e entregar trabalhos de excelência. Considero importante estudar a si próprio levando em conta os limites impostos pela capacidade interior. Sigo atento, de olhos abertos, evitando armadilhas inimigas da tranquilidade.
Observo ao meu redor um considerável número de pessoas imersas em sofrimento psíquico só por terem deixado inconclusos certos projetos. Transformam ideais em fonte de angústia. Todavia, os melhores resultados são obtidos quando entremeamos ao estudo diversas pausas, pois elas nos direcionam para objetivos sólidos. A imperfeição é uma característica humana e irá nos acompanhar durante toda a existência. Errar aqui e ali está na base da condição existencial. Vejo nestes casos a presença de um elemento que deveria ser analisado com persistência: o temor de ser ultrapassado. As ofertas se multiplicaram e os menos comprometidos, de fato, podem ser escanteados. Porém, o quanto de nossa paz está sendo roubada ao reiterar essa conduta como uma verdade inquestionável? O impulso para a autossuperação é digno de louvor, mas devem ser guardadas as devidas proporções. Aliás, qual foi a última vez que nos sentimos totalmente relaxados? A resposta “não lembro” costuma ser recorrente.
Expandir a consciência é o princípio sobre o qual repousa grande parte dos tratamentos propostos pela psicologia. As lições dos mestres estoicos também dão ênfase a esse processo ascensional plenificado na maturidade. Eles nos recordam, com sua habitual prudência, de aprender a caminhar antes de começar a correr. Ler a realidade com distanciamento nos ajuda a fazer escolhas mais acertadas. Nem tudo o que é preconizado pelo senso comum se revela adequado. Considerar alternativas é sempre possível. Pretendo me aliviar de tantos pesos que coloquei nos ombros. A sensação é libertadora.
Pagamos por tantas exigências! O impacto recai sobre a saúde mental de cada um. Distensionar é um bom antídoto para essa época que nos impõe metas impossíveis. A severidade excessiva aprisiona. Quem é livre, flui.