A ciência começa a provar o que a intuição já mostrou: evite alimentar-se de notícias ruins. Isso afeta o emocional e diminui a sua imunidade. Muita gente vibra diante de uma tragédia. São incapazes de resistir a qualquer drama do mundo cão. Apresentadores sensacionalistas são seus ídolos e encontram no infortúnio de desconhecidos compensação para uma vida apática. Buscam significar seus dias alimentando-se da dor. Até a pouco me propunha a ouvir relatos do gênero feito por pessoas próximas. Cansei. Interrompo educadamente e pergunto-lhes qual sua leitura do momento, a saúde dos pais, se pretendem continuar naquele emprego chato do qual virou obrigação reclamar. Por ser um estudioso do tema da felicidade, procuro desvios para reconduzir a conversa a patamares minimamente agradáveis. Essa é a verdade: tornou-se um ritual extrair alívio da desgraça do outro – espécie de compensação por termos sido poupados. Como se consegue atrair a atenção para uma realidade amena, longe das histórias com inícios e fins trágicos? Por certo é um fenômeno nascido bem antes da modernidade. Na Idade Média, por exemplo, as praças ficavam lotadas de homens e mulheres ávidos por acompanhar uma guilhotina em ação. Nossa natureza se compraz com sangue.
Já fui acusado, com certa justiça, de ser um alienado contente. Talvez ainda seja. Recebo vagas informações de fatos recentes. Encaixo-me perfeitamente na categoria do “último a saber”. E, com sinceridade, nem me incomoda. Leio uma revista semanal para me inteirar de acontecimentos relevantes. E só. Ligo a TV para ver filmes. Mantenho-me sensível ao sofrimento que grassa ao meu redor. Mas frente à impossibilidade de auxiliar efetivamente, gasto minhas horas de maneira saudável. Até porque, com a onipresença do universo virtual, é quase impossível cercar-se só das circunstâncias envolvendo a nossa aldeia. Mas dá, sim, para selecionar e poupar-se da saraivada de episódios ruins que, desde sempre, compõem a novela humana. A lei da impermanência coloca tudo em perspectiva. Hoje estamos aqui; amanhã, talvez não mais. Então, coloco meu Quintana sob o braço e vou passear com ele para entender melhor as razões de comportamentos tantas vezes questionáveis.
Poesia, numa hora dessas?, indagava-se o escritor Luis Fernando Verissimo. Exatamente. É o melhor antídoto para aplacar a inclinação em produzir (e assistir) tanta violência. Estar por fora pode ser terapêutico. Alivia. Dizem até ser bom para o coração. Penso na questão enquanto passeio com os cães pela chácara. Mas não me furtarei jamais de estender minha ajuda, mobilizando forças. Sou profundamente tocado por este tipo de situação. Só evito transformá-las num roteiro novelesco para partilhar numa mesa de bar. Ainda creio na bondade. E pequenas alegrias domésticas são épicos para minha alma apreciadora de bons enredos.
Agora vou te contar a última novidade: O sabiá começou a fazer seu ninho.