Fui criado em uma família com cinco mulheres. Desde cedo recebi uma educação que não fazia diferença entre o reconhecimento das capacidades determinadas por gênero. Apesar de serem as décadas de sessenta e setenta e morarmos em uma área rural, quase sem acesso a livros que pudessem confirmar a maior das obviedades: se há alguma “desigualdade” entre os sexos, ela se restringe à força física. Com o passar dos anos, pesquisei como se deu a construção histórica do fato ainda prevalecente hoje: a da nossa pseudo-superioridade. Pela imposição do olhar discriminador e de falsas crenças, criou-se no imaginário coletivo a ideia de alguns terem o direito de ditar normas de caráter inquestionável sobre os demais. Essa distorção deve levar em conta o pressuposto de pais e mães (sim, elas podem ser profundamente machistas) reproduzirem através das gerações uma visão tão equivocada. Felizmente, muitos já se propõem a desmontar verdades presas ao hábito e à repetição. Mas é um trabalho árduo e nem todos estão dispostos a rever seus comportamentos à luz de uma nova perspectiva.
Somos o produto de nossa época, porém é fundamental compreender o processo temporal como determinante para o pensamento humano. Obra essencial para entender as nuances envolvidas é O Segundo Sexo, da escritora francesa Simone de Beauvoir. O presente só tem corroborado suas análises filosóficas e antropológicas. Lembremos que a obra foi publicada em 1949. É um alentado estudo das condições coibitivas que foram incorporadas por inúmeros povos. Se agora denunciamos e nos escandalizamos com as barbaridades cometidas em nome da vontade de subjugar e oprimir, pense como era no passado nem tão remoto. Mesmo em sociedades como a grega, notoriamente conhecida como o berço da democracia, as mulheres foram vistas como criaturas sem valor algum e suas vozes silenciadas. A liberdade raramente é aplicada ao seu mundo, desde sempre. A frase de Aristóteles, um luminar da cultura clássica, nos ajuda a esclarecer isso melhor: “Elas são o que são em virtude de uma deficiência, devem ficar em suas casas, subordinadas ao marido”.
A lei nunca as favoreceu. A enganosa noção de inferioridade começa pela opressão econômica. Durante séculos lhes foi vetada a posse de propriedades, deixando a cargo dos maridos sua subsistência. O estrago foi gigantesco! Referente aos aspectos do erotismo, a repressão foi mais violenta ainda. Demonstrar prazer foi (e ainda é para tantos, embora não o digam) merecedor de desconfiança. Afinal, a permissividade era aceita apenas para quem se pretendia buscar somente diversão. Leia-se: fosse leviana. Soa um tanto anacrônico? Faça uma enquete informal e você se surpreenderá. Mas graças à ciência, os anticoncepcionais revolucionaram tudo.
Atenção, rapazes: o feminismo tem tudo a ver conosco também. Precisamos nos educar para fugir da tentação de nos valermos da biologia e de conceitos ultrapassados como justificativa para tal postura. As palavras submissão e poder não cabem em nenhuma discussão dessa ordem. Melhor caminhar lado a lado, enfatizando a igualdade. Caso contrário, viveremos abraçados à tirania. E todos perderão.