Tem se tornado corriqueiro em nossa vida. Encontramos um conhecido e, depois de minutos, ao lhe perguntar como vai, devemos nos preparar para meia hora de narração do que fez, não fez, saúde, situação amorosa, financeira, “meu Deus, como está difícil!”, etc. Disponibilizo meus ouvidos, já bastante treinados. Gosto da ideia de me aproximar do outro através de suas histórias. Contudo, o que tem me desagradado ultimamente é a ausência de síntese nas conversas. A inaptidão de focar no ponto nevrálgico e seguir adiante. A gente acolhe, mantendo a boa educação e a gentileza, porém, convenhamos, como cansa! O que se esconde por trás dessa impossibilidade de partilhar de forma objetiva? Será carência, solidão ou egoísmo? Em uma época tão narcísica, nem é de estranhar o excesso de referências a si mesmo, tão presente nos diálogos. Espanta-me como nos transformamos nisso. Reduzir o interesse à narrativa individual parece de pouco significado, se o propósito da existência é o aprimoramento, a busca por um ideal de conduta generoso e afável.
Terapeutas nos ajudam a compreender a necessidade premente de exteriorizar em excesso. O incômodo nem é tanto pelo tempo despendido em enfileirar fatos, mas pela indisponibilidade em escutar atentamente as respostas alheias. Só precisamos de uma catarse — um jorro de palavras esvaziadas pelo ímpeto de dizer e partilhar compulsivamente. A habilidade de digerir situações pessoais, reservando-as à reflexão, é altamente educativa. Quando nos tornamos pura exterioridade, é provável se surpreender incapaz de aguardar as coisas decantarem, até chegar ao processo de amadurecimento.
Para mim, uma compreensão filosófica tem como propósito revelar a possibilidade de resolver os dilemas depois de abdicarmos do impulso de ceder ao imediatismo. Quando me deparo com alguém afoito por me contar a sua agenda para os quinze dias vindouros, penso, com certa compaixão, em sua próxima vítima. Já testemunhei o monólogo de duas criaturas que usavam a resposta do outro para continuar fazendo relatos de si. Depois de meia hora, despediram-se sem saber absolutamente nada sobre seu interlocutor. Tente alertá-los sobre isso — a chance de dar certo é quase nula.
Sempre considerei refinado não julgar as motivações que levam os seres a agir de determinada maneira. Difícil relativizar. Cada um é o centro do próprio universo – no entanto, um minúsculo grão de areia no cosmos. Perceber nossa desimportância cósmica é um bom caminho para a contenção verbal. Atribuo mais valor ao abraço - essa magnífica janela pela qual reconhecemos o sentido da intimidade. Talvez comecemos a nos afeiçoar ao silêncio; basta querer mudar a dinâmica comportamental.
Invejo os monges e seus exercícios espirituais de recolhimento. Eles falam para suas almas enquanto nós, demasiadamente humanos, gritamos para o vazio.