Tenho ouvido atentamente os ensinamentos do Lama Michel Rinpoche. Desde os doze anos, ele se mudou do Brasil para o Tibet e vem se aprofundando no estudo e na prática do budismo. É um homem de fala mansa, enfatizando a importância do exercício das virtudes e de um pensamento que nos liberte dos chamados venenos mentais: raiva, ódio, ciúme, ambição... Além disso, estamos todos contaminados por uma visão utilitarista da vida. Tornamo-nos pragmáticos, focando em resultados no âmbito material, esquecendo de um plano maior: o refinamento da alma. Sou fascinado pelos princípios propostos por esta filosofia milenar: a ênfase no aprendizado dos conteúdos recebidos através da tradição. E a total recusa em colocar no centro das lições a noção de culpa, tão presente nas doutrinas religiosas. O que existe é ignorância em relação a uma maneira mais sábia de conduzir a existência. Somos fruto dos relacionamentos mantidos ao longo do tempo e da absorção do modo coletivo de pensar. A via para ascender espiritualmente é uma só: disciplina incessante, jogando luz nas áreas obscuras do nosso espírito. Aos poucos, e sistematicamente, vamos diluindo a cortina de fumaça que nos impede de ver a realidade como verdadeiramente ela é.
Aprendo muito e tento mudar alguns comportamentos considerados nocivos. O efeito é um sentimento de liberdade — e ele não cessa de se expandir. Está longe da busca pela perfeição, inclinando-se mais sobre a possibilidade de trocar os enganos pela expansão da consciência. Um passo de cada vez, digo a mim mesmo quando me sinto atrelado a uma perspectiva equivocada, resvalando em atitudes que me afastam do crescimento interior. O processo é lento e exige constância, mas fertiliza o campo da sabedoria. E esta é a colheita mais nobre a se esperar. Dentre os tantos discursos, vem-me à mente esta exortação admirável: para seguirmos o percurso da retidão, devemos aprender a escutar, compreender e meditar. Há uma grande nobreza em uma concepção capaz de nos instigar a parar diante dos fatos antes de emitir algum julgamento. As justificativas do outro comumente fogem de nós. Percebemos apenas o ato e, logo em seguida, emitimos um juízo de valor. Porém, ampliando a capacidade de analisar as possíveis razões que levaram a pessoa a agir assim, tornamo-nos aptos a desenvolver a gênese da compaixão. Afinal, erros e acertos fazem parte da geografia humana. Devemos buscar a purificação, no sentido elevado da palavra.
A meditação é a base do autoconhecimento. Sem ele estaremos fadados a permanecer estagnados diante de um mundo em perpétua transformação. O movimento interior vai nos conduzir em busca da cessação do diálogo incessante passado no cérebro. Suspender, por instantes, a linguagem e suas mil armadilhas, pode nos aproximar de estados de quietude e bem-estar. Um caminho sem volta para aqueles que acreditam haver um propósito para esta jornada ainda envolta em mistério.