Jeff Bezos voltou a ocupar o posto de homem mais rico do mundo. Elon Musk, coitado, perdeu a posição que exibia como uma coroa de louros, pois se considera uma espécie de imperador moderno. Deve estar desolado, sentimento previsível em alguém que se recusa a ser o segundo da classe. Ter sido subtraído de uns poucos bilhões de dólares talvez tenha feito pouca diferença para ele. A questão é de cobiça mesmo.
A esses, a natureza reserva eterna insatisfação. Um preço relativamente alto se pensarmos na existência como uma trajetória para atingir a serenidade. Se você já leu os Ensaios, de Montaigne, sabe do que estou falando. O grande pensador francês já apontava, no século 16, a importância de estabelecer um limite para nosso desejo de acumular tesouros. A partir de certo momento, escreveu, já não conta o valor em si e os benefícios auferidos por uma grande fortuna. Muito dinheiro atrofia a capacidade de distinguir o necessário do supérfluo. Passa a ser uma roda viva onde competimos unicamente conosco, em uma eterna compulsão de ultrapassar determinados limites impostos anteriormente. Antes nos bastava 1 milhão. Depois, essa soma aumenta exponencialmente. Nunca se chegará a uma estimativa final.
O castigo maior para esses predadores das finanças é o esquecimento de como tudo é breve. Sua bússola moral se direciona inteiramente para a eterna aquisição, em uma ciranda de movimento perpétuo. E como a sensação de poder acompanha esses seres de alma atrofiada, acabam por se empenhar em projetos que visam unicamente a satisfação de seu ego. Um bunker para se proteger numa eventual guerra nuclear, a ideia extravagante de viabilizar a habitação em outros planetas.
Enquanto isso, bem aqui, a fome e a ausência de condições mínimas de sobrevivência encurtam vidas, ampliando o sofrimento a um patamar inaceitável. Como é possível, pergunto-me, alcançar esse grau de riqueza mantendo os pés na realidade? Dada a facilidade como ignoramos os verdadeiros propósitos de aperfeiçoamento, parece algo bastante utópico. Seria essencial um trabalho permanente para não se deixar conduzir por essa percepção doentia de que nada é satisfatório.
O prazer pode ser encontrado na singeleza das boas relações cotidianas. E na aquisição de bens para o conforto e uma alegria provisória. Ser e ter coexistem, pois é difícil abraçar o contentamento diante da escassez absoluta. A filosofia nos mostra os perigos da ambição desenfreada. O caminho das virtudes passa pela aptidão de controlar os impulsos. A palavra “suficiente” precisa fazer parte do dicionário das pessoas. Buscar o brilho do ouro pode ser simples reflexo de que alguns buracos emocionais estão sendo preenchidos pelo acúmulo material.
Menos pode ser mais, se levarmos em conta o desapego e a elegância da simplicidade. A felicidade resulta de uma postura mental correta. Cuidemos para não morrer sufocados em nossa ganância.