Difícil passar uma semana sem esbarrar em alguém proferindo a frase: “Desculpe, estou sem tempo.” O que ela significa, essencialmente? Nada, pois traz consigo uma inverdade. Todos têm à disposição vinte e quatro horas por dia. Pobres ou ricos, ocupados ou ociosos, pouco importa. A cota é distribuída igualitariamente. Na realidade, há uma priorização de determinadas ações em detrimento de outras. Andamos viciados em preencher cada minuto com as mais diversas atividades. Deixar de fazer, ponderamos, é desperdiçar preciosos momentos. Será isso mesmo? Faça a pergunta a um monge, por exemplo, e ele lhe dirá que a melhor maneira de apreciar a existência é contemplando, interferindo o mínimo possível. Cortar, reduzir, ir em busca do essencial representa a possibilidade de olhar para dentro de si e obter resultados reais. E sem atravessar esse processo de auto-observação seremos apenas um mecanismo biológico desgastando-se até sair de cena. Se repararmos mais atentamente, as pessoas que tanto reclamam elegem prioridades que as distraiam da sua própria companhia. Cuido para não acontecer isto comigo. Gosto de encontrar meus amigos e aproveito qualquer oportunidade para estabelecer vínculos. Porém, se não apreciasse a solidão consentida, as conversas serviriam apenas de bengala para escapar da sensação de isolamento. Através do contato com nós mesmos reconhecemos a nossa geografia interior, inclusos aí defeitos e qualidades.
Minha noção de divertimento costuma ser diferente, por assim dizer. Aos sábados e domingos fico preferencialmente em casa. Quanto menos fizer, maior o ganho. Talvez um bolo, uma discreta arrumação, flores nos vasos. Exercito a preguiça ao máximo. Claro, vejo filmes, leio um livro. Mas só em saber que sou “dono” desses dois dias me deixa feliz. Caminhando entre os verdes da chácara, surpreendo-me em liberdade absoluta, descobrindo as florações, sentindo o vento no rosto, observando a laboriosa atividade dos insetos. A sensação de desobrigar-se das utilidades é altamente filosófica. E um admirável exercício para abraçar a quietude. Eis aqui uma palavra a ser repetida até se transformar em algo tão presente a ponto de não clamar mais por ela.
Então, ao se manifestar a vontade de vociferar contra o excesso de compromissos, lembre-se: a escolha é invariavelmente sua. Você poderá até deixar de usufruir de uma coisa aqui ou ali, mas estará se abastecendo de serenidade, almejada pelos que se pretendem buscadores da sabedoria. Sim, somos estimulados a ser máquinas produtoras. Indague-se, no entanto: está valendo a pena? Qualquer mercadoria comprada não é paga com dinheiro, e sim com horas de trabalho. Você as está subtraindo do seu calendário pessoal e jamais poderá repô-las. Seja menos perdulário com o único bem impossível de comprar. Tudo é uma questão de bom senso e inteligência emocional.
O trem da vida segue em movimento. Depende de cada um realizar várias paradas ou chegar ao destino sem ter conhecido, profundamente, qualquer paisagem.