Quanto menos nos conhecemos, maior é a possibilidade de fazer escolhas erradas na vida. Sabemos disso, mas vamos seguindo sem investir na arte de nos esculpirmos interiormente. Ao me aprofundar no estudo da filosofia e do cérebro, duas paixões que têm me acompanhado, descubro quão proveitosa é essa capacidade de se observar antes de tomar algumas decisões e obter respostas pedagógicas. Tudo o mais é impulso, e ele costuma ser um péssimo conselheiro. Já errei bastante e, ao olhar em retrospecto, constato que a ação precedida por um pensamento analítico gera sabedoria. E, para isso acontecer, é necessário aquietar o turbilhão interno e só então deixar entrar em cena as resoluções a serem tomadas. O trabalho de se perceber com clareza é complexo e muitas vezes demoramos para traduzir conteúdos guardados no inconsciente. Quem já não se perguntou: mas como fui tão tolo para agir assim? Provavelmente porque a racionalidade passou longe e, movido por sentimento de raiva ou visando recompensas imediatas, decidiu errado.
Desde os dezoito anos, quando entrei para a universidade, tive o propósito de obter algo além de um diploma, absorvendo a rica chance de ser impregnado pela cultura de tantos mestres. Fui um aluno atento, quase reverencial. Senti-me privilegiado por ter me deparado com professores magníficos, me mostrando quão importante é dedicar-se a uma análise sistemática, reconhecendo a própria fisionomia e me tornando uma agradável companhia para mim mesmo. O amor aos livros e à investigação dos comportamentos humanos sempre me ocuparam. Entendi que, se depender de satisfações exteriores para me sentir bem, só serei livre parcialmente. As vozes de homens e mulheres que viveram em épocas distantes também se tornaram minhas. Ninguém está só junto a essa multidão de criaturas sábias. Aprendi a apreciar uma palavra: ponderação. Recuar diante da tendência a reagir de maneira inopinada, pois conter-se revela ser mais prudente.
Todo o processo de colocar uma lupa no que fazemos e sentimos parece exaustivo para muitos. Mas acredite, a outra opção é pior. Não gostaria de gastar os dias simplesmente levando em conta a sobrevivência do meu corpo. Somos mais do que organismos biológicos e nossa tarefa ultrapassa a de só cuidá-lo. A subjetividade nos distingue dos outros animais. Talvez por essa razão considero a terapia uma poderosa âncora para ter acesso ao universo interior. Ela reverbera em todos os momentos da existência. E nem precisa ser um caminho doloroso. Temos uma inesgotável potência regenerativa dentro de nós. E podemos transformar características ruins em algo vigoroso e criativo. Mas boas intenções são insuficientes. O valor está na prática. Estamos em constante mutação. Aposte na ideia de se manter motivado e adepto da disciplina mental. Os resultados o surpreenderão.