É provável que antes de dormir, já deitado, você dê uma olhada no seu Instagram ou outra rede social. E pensa: quinze minutos, que diferença vai fazer? Pois sim. A produção de melatonina, responsável por termos um sono tranquilo, permitindo ao cérebro passar por todos os estágios necessários à recuperação física e emocional, diminuirá de maneira considerável. A presença de luz intensa e a agitação mental são prejudiciais e bloqueiam a desconexão da realidade. Poucos se dão conta de como isso irá reverberar nos comportamentos do dia seguinte. Ser estimulado a toda hora compromete o desligamento de determinados circuitos. Precisamos dessas pausas para não enlouquecer. Prive um ser humano disto e você verá o que acontece. Em casos extremos, poderá até provocar colapso físico. As sensações de conforto e a capacidade de raciocinar com clareza dependem de seis ou oito horas, em média, de repouso. E a ansiedade, onipresente na vida contemporânea, acaba se potencializando quando o corpo fica em contínuo estado de excitação. Ter algumas horas a mais para refletir é, em princípio, uma prática de aprimoramento interior. Porém, há de ser um ato voluntário, distanciado do hábito de ficar remoendo problemas de forma obsessiva.
Lembro de meu pai dizendo conseguir esquecer tudo de ruim que lhe aconteceu ao colocar a cabeça no travesseiro. Por mais dramática que fosse uma situação a ser resolvida, relaxava, deixando de lado uma eventual angústia. Não herdei isso dele, mas tenho me esforçado (obrigado, terapia!) para serenizar meu espírito. Ligo um abajur suave, dedico generoso tempo à leitura e deslizo para os braços de Morpheu. Sou muito sensível aos ruídos externos e por isso agradeço por morar em um lugar onde o silêncio me abraça. Acordo de manhã renovado, como se tivesse recebido nas veias uma dose de adrenalina. Levanto rápido, sem pestanejar, e me sinto pronto para fazer uma longa caminhada.
Além disso, essa ruptura, por assim dizer, é um pequeno ensaio de morte. Sem dor perceptível, sem angústia, apenas resvalando ao encontro do inconsciente. Ah, mas melhor mesmo é quando somos anestesiados. Algo difícil de ser descrito em palavras. Na primeira vez, tive uma revelação quase mística. Foi como se uma mão invisível tirasse da alma qualquer pavor do desconhecido fim. Somos bem aferrados ao nosso eu e a ideia de nos separarmos dele é quase insuportável. Enfim, são exercícios, e eles podem nos esclarecer sobre certos medos imaginários.
Hoje fico atento à qualidade desse intervalo de tempo, imprescindível para meu subsequente bem-estar. Respeito os limites e evito agredir a mente com preocupações inúteis, pois na maioria das vezes as coisas vão sendo solucionadas por si. A manutenção do bom humor está atrelada a essa percepção. Torná-la presente é uma questão de disciplina. Um processo que exige paciência até ser algo automático. Tudo o mais é ruído, estrada mais curta para você correr até uma farmácia em busca de uma solução artificial.