As redes sociais são uma das melhores invenções do mundo. As redes sociais são uma das piores invenções do mundo. As duas afirmativas estão corretas. Todo novo “produto” é, em si, neutro. O que conta é o uso que fazemos dele. Posto isso, desenvolverei algumas considerações sobre o alarmante fenômeno das fake news, onipresente em nossas vidas. Durante certo tempo subestimei sua força e nocividade, infiltrando-se violentamente no cotidiano de cada um. Pensava, ingenuamente, em dar-lhes apenas o descrédito — suficiente para me proteger dessa enxurrada de mentiras. Mas as recentes eleições nos mostraram seu poder devastador. E aqui não vai nenhum posicionamento político. O cidadão comum, ao receber informações a granel e sem verificar sua autenticidade, é a vítima preferencial dessas hordas que têm sempre como propósito maior incitar o ódio. Todos são afetados, pouco importa o sistema de governo. O desenvolvimento do senso crítico é fundamental para a verdade ocupar um lugar central. Vale destacar: a situação que experimentamos atualmente tem repercussões gravíssimas no micro e no macro universo das relações. Manter-se alheado é uma péssima opção. Por outro lado, como é exaustivo estar em vigilância permanente! Mesmo me norteando escassamente pelo que é divulgado em certos veículos de postura tendenciosa, já repassei algum conteúdo que depois descobri ser falso.
Relembrando: no período da ditadura militar fomos assombrados pela censura. Tudo era regulado a partir das normas instituídas pelo regime vigente. Ninguém (ninguém?) anseia voltar para essa época. Porém, discordo de alguns analistas que pregam o dizer irrestrito nas redes. Acreditam na possibilidade do espaço público e privado se autorregular. Só se fôssemos um povo formado por pessoas com capacidade analítica extraordinária. Convenhamos, está bem longe da realidade.
Li uma entrevista com o respeitado engenheiro de dados turco Orkut Buyukkokten em que ele disse: “Usar a liberdade de expressão como desculpa é intelectualmente desonesto e moralmente condenável. O discurso deve ser protegido desde que não cause desinformação e danos à sociedade. Existem todos os tipos de discurso como terrorismo, tráfico humano, pornografia infantil e violência.” Entenda, não estou dizendo para banir o que aparece nos embates virtuais, mas para ficar atento. Considero um ganho enorme o fato de todos poderem se manifestar, independente de credos ou posicionamentos de ordens diversas. Assim se fortalece uma democracia. Entretanto, estamos nos transformando em criaturas belicosas, ávidas por matar através das palavras. Infelizmente essa disseminação parece incontornável. Quem propaga tanta injúria deveria sofrer severas punições, criando-se leis para inibir seu alastramento.
É um tema espinhoso. Precisamos encará-lo de frente para assegurar um mínimo de civilidade, afastando a barbárie.