O ator e diretor Henrique Diaz disse, recentemente, em um podcast: “Assumir a vida é também gostar do fracasso”. Fiquei refletindo bastante a partir dessa afirmação e cheguei à conclusão de me alinhar profundamente com seu pensamento. Explico. Há muitas coisas positivas na época atual e é bom exaltá-las. Porém, a capacidade de tolerar a frustração certamente não está entre elas. E o gosto amargo que nos acompanha ao irmos da sensação de euforia para o de tristeza é difícil de absorver. As redes sociais parecem ser, em grande medida, responsáveis por essa mudança de paradigmas. Lembro de meus pais e minha avó se adaptando com mais facilidade quando alguma situação de perda se instaurava em suas vidas. Eles entendiam ser isso inerente ao humano. Sabiam esperar, colhendo com serenidade a escuridão dos dias impregnados de sofrimento. Não lutavam, aceitando tacitamente o processo e aproveitando para renovar suas forças. Hoje tudo é rápido, embalado na impulsividade e, de preferência, com a obrigação de nos mostrarmos compulsivamente felizes - uma performance impossível, diga-se de passagem. Nessa realidade edulcorada é impensável caber algum tipo de dor - só de sucesso irrestrito e contínuo. Passamos a negar algo inerente à nossa condição.
O resultado é a resistência em deixar o tempo fazer o seu trabalho, independente das expectativas. Aprendi, muitas vezes de maneira dolorosa, que a cura para as feridas não contém atalhos. E tanto mais eu me contraponho, mais sou tomado pelo sentimento de negação, recusando o inevitável. E é bom, por outra parte, perceber os momentos de alegria aflorando à consciência e aproveitando-os com mais intensidade. Se passamos indiferentes pelas graças recebidas, há pouca valia e escasso aproveitamento. Como se a existência nos devesse só o melhor. Jogar luz sobre os extremos é vital para se encontrar o equilíbrio. Nas ações cotidianas e na busca espiritual.
Para mim, filosofar é permanecer em estado de atenção, assimilando com lucidez o que nos está sendo oferecido. Reconhecer a sabedoria da natureza. Se alguma luta precisa ser travada é a de impor-se contra as más tendências, pois somos um vasto campo de possibilidades, nem sempre admiráveis. Uma visão determinista nos distrai de nossas potencialidades. Exulto ao perceber em mim algo antes cristalizado e agora se transformando. Para saborear isso, refreio o ímpeto de dar saltos entre uma vivência e outra. Vou a passos lentos, mesmo se tenho vontade de correr.
Se você pretende substituir um vício por uma virtude, por exemplo, acomode-se dentro de si, vigie e espere. Com os olhos abertos, mas sem ignorar o que é atravessado por diversas etapas antes de atingir o seu propósito. A paciência é o degrau intermediário entre o rés do chão e as estrelas.