Há várias maneiras de nos situarmos na vida: através do dinheiro, da inteligência, da profissão. E, vejam só, pela roupa que vestimos. Durante grande parte da existência desconsiderei essa possibilidade. Achava supérfluo dar tanta atenção a esse ramo da estética. No entanto, sempre admirei pessoas de bom gosto. Elas chegam e causam impacto. Sob certos aspectos, isso também é uma expressão de arte. A harmonia das cores, a qualidade dos tecidos, denotam uma relação intrínseca com o belo. A maneira dos outros nos perceberem, a leitura que fazem de nós, passa inevitavelmente por esses enfoques. Claro, é só um componente ao qual precisa ser agregada boa educação, gentileza, delicadeza no trato com os demais. Em síntese, é um conjunto de elementos definidores da nossa identidade. Uma observação: jamais veria com olhos demasiado críticos ou julgaria com severidade alguém que comete alguns pecadilhos neste quesito específico. Mas é agradável encontrar quem se apresenta com apuro visual. É uma maneira diversa de espalhar beleza pelo mundo. Sem deixar de ser um componente importante no universo dos códigos sociais. Envolto no estudo das ciências humanas, demorei para me dar conta do alto grau de satisfação obtido. Manter uma postura de elegância ajuda a refinar a alma.
Conheço seres totalmente servis à moda. Ao primeiro olhar passam uma régua e nos avaliam dos pés à cabeça. Adoram seguir as “tendências da estação” e saem em desabalada corrida para adquirir as peças desenvolvidas por determinada marca. Mesmo ficando estranhas ou ridículas nelas – neste caso vamos deixar de lado o polido uso de eufemismos. E tem mais: soube de uma grife francesa de bolsas que só permite o acesso de clientes à loja por convite. Não basta simplesmente ir até lá. E o suprassumo da arrogância, por assim dizer, é o fato de a compradora em potencial estar proibida de escolher o objeto de seu desejo. Ele é definido por um funcionário. Sinceramente, é ultrapassar todos os limites do bom senso. Situação como a descrita parece fugir do conceito de psiquicamente saudável.
Ah, antes de ser acusado de me debruçar sobre um tema leviano para esta reflexão, digo a meu favor que ele tem merecido respeitados estudos e análises de muitos filósofos e pensadores. Participo dessa turma: gosto da ideia de habitar espaços onde todas as manifestações são consideradas. Nada deveria ser qualificado como menor. Há algo além da aparência na própria aparência. A vaidade, em doses comedidas, pode ser uma virtude não catalogada.
Sinto-me feliz por ampliar meu espectro de interesses. Continuarei dedicando um bom tempo aos livros e ao cinema, paixões presentes desde a adolescência. E ao polimento das relações. Recentemente incluí em meus propósitos a arte do bem vestir. Tudo faz parte dessa fascinante aventura chamada viver.