Meu pensamento se alinha ao das pessoas convictas quanto à possibilidade de ser possível mudar substancialmente ao longo da vida. A construção de ideias em relação aos fatos, aos seres e sobre nós mesmos é atravessada por um significativo processo de alterações no transcorrer do tempo. Mas só ocasionalmente nos damos conta quando isso acontece; geralmente essa constatação se dá em retrospecto. Muitos mantêm certo orgulho em reafirmar posicionamentos que defendem de forma radical, imunes a revisionismos. Rejeitar o que brota do desconhecido invalida a compreensão de quão relevante é ir caminhando ao sabor das circunstâncias, reavaliando a maneira de ver o que nos cerca. Mas faço essa ressalva: é primordial manter determinados pilares, a despeito da mudança de paradigmas comportamentais, a despeito da chancela do senso comum. Prossigo no desafio de esforçar-me cada vez mais em absorver com genuíno prazer as múltiplas paisagens do mundo. Ilustro esta fala com apontamentos do livro Onde nascem os gênios, do americano Eric Wainer. Ele expõe um rigoroso painel, atravessando vários séculos, com civilizações servindo de modelo e referência para nós. Da Atenas de Sócrates, passando pela Florença de Michelangelo, até chegar ao Vale do Silício, em todas as sociedades houve a inserção do novo, instaurando percepções até então inéditas.
Veja que interessante. Amigos com os quais convivo bastante, nem sempre em idade avançada, sequer ouvem meus argumentos incitando-os a participar de alguma rede social. E alguns nem se predispõem a ter celular. É seu direito, evidente. Não pretendo criticá-los, apenas faço um apontamento para análise. Entretanto, creio perderem uma grande oportunidade de evoluir com o que nos é oferecido hoje. Lembro da resistência autoimposta em me inserir nas plataformas digitais. Felizmente, comecei a me interessar e hoje posto quase diariamente. Adoraria ainda estar habitando este planeta daqui há cinquenta anos, por exemplo, para descobrir como será a imersão numa realidade ultra tecnológica. Mantenho a certeza de ser proveitoso assimilar com renovado gosto o que nos será apresentado. E é importante propalar esse movimento interno em nosso círculo mais próximo. Lacrar os conceitos sedimentados no decorrer da trajetória é como embalsamar um corpo ainda vivo. Ninguém duvida: é difícil sair da zona dos condicionamentos. Mas essa recusa acaba apequenando a alma, afastando-nos da riqueza imersa na variedade. Estou tentando fazer uma triagem saudável de tudo o que é posto diante de mim. Nem sempre preciso marcar adesão, pois há “avanços” nocivos. Busco ampliar a consciência, posicionando-me sem medo de encontrar supostas contradições. Aprendo demais nestes desvios de rota e me considero afortunado por tal permissão.
Acima de tudo é preciso entender o amadurecimento como uma estrada sinuosa, cheia de bifurcações que devemos palmilhar. Assim expandimos a inteligência e evitamos a rigidez, tão nefasta ao crescimento interior.