Sempre considerei, na teoria e na prática, que a continuidade de um relacionamento saudável depende da capacidade emocional em conseguir se separar dos seres que amamos. Explico. Essa separação é só um hiato, não definitiva. É difícil endossar a ideia tão equivocada do “eu só vou se você for”. A vida é tão ampla e múltipla – impossível uma única criatura nos satisfazer o tempo todo e nos mais variados quesitos. Mas é uma grande felicidade envolver-se com quem desejamos passar os dias a longo prazo. Porém, parece improvável manter essa expectativa em alta quando somos surpreendidos pelo cotidiano e suas mil repetições. Além disso, se algo fica à disposição, normalmente tendemos a diminuir o interesse. É assim, tão previsível. Pois bem. No meu entendimento, raras coisas são tão salutares quanto a aptidão de aprendermos a nos apartar em algumas circunstâncias. É somente um exercício, uma pausa para fortalecer o sentimento. Podemos nos tornar cansativos, exaurindo os demais. Se a “presa” já está em nossa posse, a segurança advinda pode trabalhar contra um projeto longevo de felicidade. De onde se conclui o óbvio, por vezes esquecido: a perspectiva de perder é altamente educativa.
Pense comigo: ao nos afastarmos de quem amamos, a probabilidade é ser invadido pela saudade. As qualidades se ampliam e os defeitos já não parecem mais tão defeitos assim. Talvez por isso uma tendência comportamental esteja se espalhando mundo afora. Casais em uma boa fase do casamento resolvem tirar um período sabático, rompendo a rotina. Mesmo tendo filhos. Um deles fica cuidando da prole e o outro vai respirar um pouco. Acho uma solução excelente e pode representar alívio para as tensões e cobranças do mundo moderno. Normalmente esquecemos que o modelo aceito para construir uma existência a dois é apenas um entre tantos. Basta dar uma rápida espiada na história da humanidade para constatar essa evidência. A gente nem precisa sair por aí experimentando todas as modalidades oferecidas. Basta ser inteligente o suficiente para perceber que é viável pensar em diversas formas de mostrar afeto. É importante manter a chama acesa pela via da ausência – fator essencial para a manutenção do desejo e da vontade.
Estar constantemente com alguém costuma ser complexo. Muitos se conformam com a tepidez em nome da estabilidade. Precisa ser assim? Repensar fartas possibilidades é terapêutico. Caminhar, provisoriamente, em direções opostas pode ser a melhor maneira de aprofundar os laços afetivos, tendo no respeito à liberdade alheia um bom antídoto contra o desgaste inevitável que se anuncia depois de anos partilhando as mesmas coisas. A sensação de perda iminente costuma ampliar o valor. Férias conjugais podem ser uma boa estratégia para frear a morte do amor.