Sob alguns aspectos, é difícil ser jovem hoje em dia. A imposição de cumprir extensa agenda de compromissos, que os ocupa da manhã à noite, é muito emblemática. Aliada a isso, há a “necessidade” de estar em permanente exposição nas redes sociais, de preferência mostrando-se feliz, dando ênfase a qualidades estéticas e à vida próxima da perfeição. O efeito? Uma geração imersa na ansiedade e na depressão bem cedo. A revista TPM publicou, recentemente, uma matéria elucidativa sobre o assunto. O título: “Um comprimido pra dormir, um pra sorrir, outro pra trabalhar”. Isso advém do fato da sociedade estar cobrando constante desempenho e excelência, dando ensejo a fraturas emocionais que passaram a ser curadas artificialmente. O resultado é a dependência precoce de produtos farmacológicos. Especialistas apontam um lado positivo: a busca de ajuda para a supressão do sofrimento psíquico. Porém, são deixadas de lado as causas e, sem analisá-las, compromete-se a cura. É inquestionável o quanto se minimiza, através desse expediente, crises que levam, no extremo, à redução das capacidades cognitivas para lidar com situações estressantes, quando não ao suicídio. Vale lembrar: está virando endemia, e um número gigantesco de homens e mulheres já se valem desse suporte para resolver problemas de ordem prosaica, significando a redução dos recursos internos para lidar com a frustração.
Desde 2020 houve aumento de vinte por cento na venda de medicamentos controlados, ultrapassando cem milhões de caixas comercializadas. Somos o vice-campeão mundial, estatística nada alvissareira. Some-se o fato de estarmos ingerindo substâncias químicas para emagrecer, fazer sexo, acordar. Continuo acreditando no privilégio de se viver em um tempo de grande liberdade e autonomia para fazer escolhas. No entanto, parece haver enorme preço embutido. Observo o comportamento dos filhos de meus amigos e fico cansado só de acompanhar sua rotina de estudos e trabalho. Mesmo considerando o entusiasmo e a resistência característicos dessa fase, tudo me parece excessivo. A consequência é o desequilíbrio interior, desencadeando angústia por serem incapazes de atingir a performance esperada. Temos como exemplo a Coreia do Sul, país altamente desenvolvido e que cobra dos estudantes distinção escolar (e profissional) quase sobre-humanos. Muitos não aguentam as imposições e acabam dando fim à própria existência.
Precisamos ficar atentos a essa realidade, tantas vezes camuflada sob aparências que causam inveja; entretanto, não se sustentam num segundo olhar. O acesso ao consumo e à informação indiscriminada podem conduzir as pessoas ao desamparo, pois não preenchem o vazio da alma. Crescer comporta seus riscos, mas também tem a sua beleza. A descoberta do mundo deve acontecer de forma ordenada e saudável, sem tanta pressão. Caso contrário, só conseguiremos enfrentar os desafios anestesiados.