A passagem do tempo deixa marcas indeléveis em nossos corpos. Correções estéticas nos ajudam a disfarçar, provisoriamente, os sinais que denunciam a idade. Em uma sociedade que louva a juventude é compreensível valer-se desses recursos, mesmo com resultados questionáveis. No entanto, existem outras maneiras de alcançar o equilíbrio e a aceitação diante deste fato. A primeira delas, sem dúvida, é estar vigilante ao que o mundo nos oferece, sobretudo nessa época de mudanças vertiginosas. Devemos nos considerar afortunados, embora a ansiedade costume bater à porta com frequência. As noções de autoridade já não são chanceladas só pela experiência. Vejo isso como algo positivo, pois a velhice nunca garantiu sabedoria a ninguém. Podemos encontrar adolescentes admiráveis e com grande senso crítico. O acúmulo das vivências não nos transforma, necessariamente, em exemplos a serem seguidos. Acredito ser proveitoso rever permanentemente os posicionamentos. Deixar de lado preconceitos e disponibilizar espaços para novos modelos de interpretação da realidade. Ando me aproximando de quem preserva acesa a vivacidade e o entusiasmo, por estar no início de sua existência. Mas também opto pelo contato com os idosos, pois sei como eles se tornam invisíveis para a maioria, amargando uma dolorosa solidão. Promover o diálogo e disponibilizar-se para uma escuta atenta pode ser um afago, suavizando seus dias.
Sigo o conselho do poeta Mario Quintana: “É preciso ter a idade da pessoa com quem conversamos.” Então, se estou com alguém de vinte, vinte e cinco anos, é aconselhável evitar o diálogo mestre/discípulo. Até porque posso ser o maior beneficiário. Minha geração cresceu reproduzindo conceitos herdados de pais e avós. É respeitoso, mas eles nem sempre se sustentam a um escrutínio. O significado da palavra “verdade” muda ao longo das décadas. Hoje, quem está se embrenhando no universo dos relacionamentos afetivos tem a forte convicção de que pode ser apenas um entre tantos outros, dando lugar a um manancial de possibilidades. Refletindo sobre o assunto me dou conta de como sou privilegiado por ser acolhido em variados grupos etários. Passei a me despreocupar com a soma dos anos passados. Mantenho o espírito tinindo.
Aproveito os momentos que precedem o sono não só como o período antecedendo o repouso, mas como uma rica chance de fazer autoanálise e firmar compromisso com a expansão interior. Tenho como propósito o contínuo aprendizado. Recuso a aceitação pacífica dos meus defeitos. Permaneço diligente e me felicito diante de qualquer vitória obtida. Orgulhar-se de sustentar padrões de pensamento só por serem alimentados pela força do hábito me parece insatisfatório.
Abraço o agora e olho para o passado sem saudade. Carimbo na alma o passaporte para o futuro. Definitivamente, estou ficando mais jovem.