Aconteceu e eu testemunhei. Empresário bem-sucedido, admirado por tantos, revelou seu verdadeiro caráter numa situação absolutamente banal. Depois de ter obtido grande lucro na venda de objetos por ele produzidos, recusou-se a pagar uma ninharia (coisa de 40,00 reais) para proteger com plástico bolha seu material antes de ser transportado. Achei constrangedor, e confesso a dificuldade de encontrar qualquer eufemismo para minimizar o impacto causado na minha mente. É como se costuma dizer: a questão não é saber como ganhar dinheiro, mas como gastá-lo. Ao longo da vida deparei com situações análogas e todas me deixaram estarrecido. Como acostumar-se? O lado bom é a ampliação da consciência do que não quero ser. Muitas vezes constatei com espanto que estava sendo avarento comigo e com os outros, mas tratei na terapia e creio ter evoluído consideravelmente. Cada um sabe como se conduzir, mas nada justifica seguir existência afora com as mãos e a alma tão fechadas. O tempo acentua nossas características mais proeminentes. É incontestável, pois conheci pessoas que, até o último de seus dias, se agarraram a bens materiais como se os pudessem carregar para o além. Sinto raiva e compaixão. Sou bastante passional e dificilmente passo incólume por vivências como a descrita. Porém, à luz das emoções aquietadas, percebo a indigência de quem age dessa forma.
Busco o equilíbrio com a proximidade de seres generosos, que assim o são independente de sua conta bancária. Felizmente, tenho diversos desses amigos. Sempre dispostos a pagar jantares, ingressos, a presentear, expandindo as delicadezas. Tento imitá-los, pois, infelizmente, o que deveria ser natural parece ser algo cada vez mais raro. Será mera personalidade ou precisamos treinar esse despojamento? Talvez ambos. Fato inconteste: a soma dos anos deve nos surpreender distanciados da mesquinharia, caso contrário pouco teremos aprendido e apenas estaremos, como disse Quintana, fazendo horas para morrer. É interessante observar: ao conduzir-se de maneira sovina creem estar protegendo seu precioso capital. Muitas vezes vão à Europa, hospedam-se em hotéis caros e, imersos no fausto, barganham valores ínfimos. Estará no seu DNA ou as circunstâncias reforçaram esse traço? A psicologia saberá explicar, certamente. Muitas vezes consigo transmutar o sentimento de incredulidade em algo bem próximo da compreensão. Mas exige esforço tremendo. Sem contar já ter sido vítima de sermões bem-intencionados por parte desses acumuladores monetários. Cansei de ouvir: você vai se arrepender lá adiante; ao cuidar hoje do que tem, nunca ficará à mercê amanhã. Concordo, mas com parcimônia, senão vira patologia.
Não há propriedade, só empréstimo. Repartir, eis o mantra. Pobres criaturas, se pensam estar ganhando ao reter. Lembram sempre o tio Patinhas, personagem dos quadrinhos, sufocado sob montanhas de moedas. Planejo destino mais luminoso para mim.