Gilmar Marcílio
Aconteceu e eu testemunhei. Empresário bem-sucedido, admirado por tantos, revelou seu verdadeiro caráter numa situação absolutamente banal. Depois de ter obtido grande lucro na venda de objetos por ele produzidos, recusou-se a pagar uma ninharia (coisa de 40,00 reais) para proteger com plástico bolha seu material antes de ser transportado. Achei constrangedor, e confesso a dificuldade de encontrar qualquer eufemismo para minimizar o impacto causado na minha mente. É como se costuma dizer: a questão não é saber como ganhar dinheiro, mas como gastá-lo. Ao longo da vida deparei com situações análogas e todas me deixaram estarrecido. Como acostumar-se? O lado bom é a ampliação da consciência do que não quero ser. Muitas vezes constatei com espanto que estava sendo avarento comigo e com os outros, mas tratei na terapia e creio ter evoluído consideravelmente. Cada um sabe como se conduzir, mas nada justifica seguir existência afora com as mãos e a alma tão fechadas. O tempo acentua nossas características mais proeminentes. É incontestável, pois conheci pessoas que, até o último de seus dias, se agarraram a bens materiais como se os pudessem carregar para o além. Sinto raiva e compaixão. Sou bastante passional e dificilmente passo incólume por vivências como a descrita. Porém, à luz das emoções aquietadas, percebo a indigência de quem age dessa forma.
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