Gilmar Marcílio
Inúmeros livros foram escritos, palestrantes se dedicam ao tema, amigos aconselham-se entre si. Mas eis a verdade: desconhecemos uma fórmula definitiva que garanta um casamento feliz. Temos as nossas singularidades e o tempo aplaina ou acentua os aspectos mais marcantes. Após alguns anos ou décadas é praticamente inevitável testemunhar algum declínio. A convivência diária, as lacunas de silêncio e a diminuição do desejo sexual podem ser fatais para um projeto que anima a tantos. Somos criaturas inclinadas à liberdade e esse contrato pressupõe acordos prévios, muitas vezes contra a natureza. Abdicamos de coisas vitais em nome da fidelidade, ainda um valor onipresente na nossa sociedade. Construir uma família implica num pacto. De certa maneira, ele isola os demais numa afetividade redutora, quando deveria ser expansiva. A “salvação” é viver secretamente histórias paralelas, dizem os que estudam o assunto. Menos os privilegiados que encontram elementos suficientemente sedutores concentrados em uma única pessoa. O equivalente a ganhar na loteria. Sozinho. Os desafortunados passam a vida sonhando com um ideal associado quase à ficção, ignorando os acenos da realidade.
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