Inúmeros livros foram escritos, palestrantes se dedicam ao tema, amigos aconselham-se entre si. Mas eis a verdade: desconhecemos uma fórmula definitiva que garanta um casamento feliz. Temos as nossas singularidades e o tempo aplaina ou acentua os aspectos mais marcantes. Após alguns anos ou décadas é praticamente inevitável testemunhar algum declínio. A convivência diária, as lacunas de silêncio e a diminuição do desejo sexual podem ser fatais para um projeto que anima a tantos. Somos criaturas inclinadas à liberdade e esse contrato pressupõe acordos prévios, muitas vezes contra a natureza. Abdicamos de coisas vitais em nome da fidelidade, ainda um valor onipresente na nossa sociedade. Construir uma família implica num pacto. De certa maneira, ele isola os demais numa afetividade redutora, quando deveria ser expansiva. A “salvação” é viver secretamente histórias paralelas, dizem os que estudam o assunto. Menos os privilegiados que encontram elementos suficientemente sedutores concentrados em uma única pessoa. O equivalente a ganhar na loteria. Sozinho. Os desafortunados passam a vida sonhando com um ideal associado quase à ficção, ignorando os acenos da realidade.
Arrisco aqui sugerir duas características (ou qualidades), a meu ver altamente benéficas para a manutenção e a longevidade de uma parceria a dois. Em primeiro lugar, a admiração recíproca. Expressar, no particular e no público, o quanto o ser amado é importante para nós. Com a chegada dos filhos e os problemas de ordem prática a serem resolvidos, esquecemos de manter essa chama acesa. O excesso de intimidade costuma salientar os defeitos, minimizando os predicados. A necessidade de resolver obstáculos que surgem pouco contribui para evidenciar as qualidades. Os que podem manter saudável distanciamento diário um do outro terão essa tarefa facilitada. Orgulhar-se de esposa/marido é algo tão bonito de sentir e testemunhar. Um mês depois de morar junto é fácil. Mas, e passados trinta anos? Parabéns a todos nós que ainda olham com encantamento e renovam seus votos a despeito da desgastante rotina.
Por fim, existe algo mais adorável do que conservar o bom humor em alta? Ao se levar muito a sério, cometemos um erro fatal: dar importância ao inócuo. Rir de si (e com o outro) é entronizar a leveza como meta para superar possíveis dificuldades. Divertir-se a despeito dos obstáculos. Tirar a gravidade onde ela não tem razão de ser. A cumplicidade é reforçada através da manutenção de algo muito simples: o entendimento que passa ao largo de explicações e discursos. Ao invés de trazer para dentro de casa só as preocupações, esforce-se para provocar o riso. Acho isso altamente estimulante. Um forte aliado na manutenção do prazer e da alegria, tão essenciais em qualquer relacionamento.
Se você foi escolhido por alguém entre uma infinidade de seres humanos, faça por merecer esse milagre chamado amor.