Uma frase recorrente na conversa entre amigos: “Não me sinto com a idade que tenho”. Acho a observação ótima, embora o tempo, inevitavelmente, arrefeça certos ímpetos. Por outro lado, vai acomodando algumas ansiedades, substituindo-as pelo aquietamento. Acumulamos dentro de nós um manancial de experiências, possibilitando-nos agir com mais sabedoria. Em meio a essas subtrações e ganhos, uma atitude é fundamental para garantir espírito eternamente jovial: a convivência com pessoas de variadas idades. Acolher quem atravessou conosco a jornada e também amizades surgidas na maturidade. Há um arejar de pensamento, tão essencial para escapar da cristalização de conceitos cobertos de poeira. Uma das irrefutáveis leis da vida é a eterna renovação. Precisamos de pulsação, movimento. Do corpo e dos aspectos emocionais e psíquicos. Sou privilegiado por conviver assiduamente com meus estagiários, que injetam em mim doses de entusiasmo e ousadia. É bonito demais estar próximo de seres entrando de peito aberto em fase tão luminosa da existência. E não ser privado da vontade de conhecer e exercitar o companheirismo com essa plêiade de criaturas. Parece um arco-íris iluminando o crepúsculo. É uma felicidade surpreender-se disponível, cultivando o gosto pelo encontro e a aprendizagem.
A diferença geracional costuma ser imensa. Razão suficiente para evitar a sedimentação de verdades cambiantes por sua própria natureza. Uma coisa são os valores atemporais. Outra, a assimilação da riqueza presente em quem nos sucederá. Considero elegante saber retirar-se do palco na hora certa. Embora este dia esteja se estendendo admiravelmente. Enquanto não acontecer, sejamos inteligentes, aproveitando os benefícios advindos do contato com quem está abrindo portas em busca de um cenário diverso. Critica-se muito essa gurizada constantemente conectada nas redes sociais. Ora, tal imersão aconteceria em qualquer momento histórico, pois tem um alto grau de sedução. Como disse um colega, se o Twitter tivesse sido inventado no século de Platão, certamente faria uso sistemático dele. Ganha-se e perde-se com todo tipo de revolução comportamental. E assim a humanidade vai estabelecendo parâmetros inéditos, expulsando o velho e instaurando o necessário novo.
Pretendo me cercar dos que estão iniciando sua trajetória enquanto me acolherem com alegria. Longe da pretensão de ter sempre a resposta certa. Nada disso. Manterei os pilares responsáveis pela sustentação do eu sem deixar o interesse e a curiosidade esmorecerem. Se aparentamos a soma de anos vividos, façamos a nossa parte, deixando o sol arejar esse período geralmente voltado para a introspecção. Somos privilegiados por viver numa época sem tantas amarras, permitindo-nos a expansão de horizontes. Tudo é uma questão mental. Derrube algumas cercas para ampliar as paisagens da sua alma.