O poeta Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, escreveu: “Minha pátria é minha língua”. Além de ser um canto de exaltação à linguagem, é um instrumento de identidade, um convite para refletirmos o quanto o verbo define a nós mesmos. Ando pensando muito nisso ultimamente e os motivos são de ordem prática. Seguidamente vou até uma loja de conveniência para comprar algum alimento. São espaços ocupados principalmente por jovens, todos sabem. Pequenos grupos de moças e rapazes, invariavelmente com uma bebida na mão, riso aberto no rosto, demonstrando claros indícios de alegria. Acho bem bonito. A vida ainda os machucou pouco e grandes preocupações não acenam em seu horizonte imediato. Porém, algo preocupante pode ser observado quando nos detemos para ouvir o que estão dizendo: a absoluta indigência das expressões e o uso sistemático de palavras chulas. Estou tentando ser elegante, mas aos mais sensíveis e educados é um verdadeiro estupro verbal. Claro, ninguém costuma ir a esses lugares para filosofar, mas é preciso valer-se de tanta grosseria? E chamam a isso de comunicar-se. Sei lá, sou de uma época em que isso fere os ouvidos e demonstra a personalidade do autor. Exagero? Talvez, mas é tão admirável ver alguém fazer uso do idioma sem transformá-lo numa espécie de esgoto para exprimir ideias canhestras.
Evito ser purista nessa questão. Num contexto casual é perfeitamente aceitável certo “relaxamento”. Só não dá para achatar tanto o vernáculo. E esse fenômeno tem se estendido aos de idade madura também. Como se a informalidade andasse de mãos dadas com o vulgar. É maravilhoso conversar com quem constrói frases sem apelar para o uso de vocábulos comezinhos. Aprendi na escola de filosofia Nova Acrópole: cedendo ao baixo, perdemos de vista o alto. Por analogia, podemos dizer que a existência é a construção de um edifício passível de ruir se usarmos material inferior. A humanidade teve poucas eras de ouro e evito me debruçar melancolicamente nas janelas do passado. Meu tempo é hoje e tento me apropriar do que há de nobre nele. Fico triste ao ver tantos espezinhando algo definidor de nosso próprio caráter. Experimente ler um livro de Machado de Assis, por exemplo. Ele nos eleva aos píncaros do português. Ultrapassado? A meu ver, eterno.
Refreie o impulso de ceder aos apelos fáceis para ser aceito no seu grupo. Poderá se transformar em algo crônico. E lembre-se: a inteligência tem um alto apelo de sedução. Um componente erótico até. A admiração pode prescindir dos belos corpos, jamais das belas almas. Qualquer ambiente é nobre se ocupado por pessoas que respeitam a si mesmas e aos outros, sem sucumbir ao empobrecimento da fala. Regra de ouro que vale para mim, você e o Presidente da República.