A literatura está coalhada de excelentes histórias sobre eles. São seres que se alimentam do sangue humano. Vivem de sugar, com afiadíssimos dentes, os pescoços alheios. Desde muito fazem parte do nosso imaginário, despertando fascínio e medo. Valendo-se de uma analogia, diversos estudiosos do comportamento vêm se dedicando a desbravar um tema espinhoso e pertinente: a semelhança entre certa maneira de nos conduzirmos e a dessas criaturas que despertam em nós emoções ambíguas. São os vampiros emocionais. Eles chegam perto de você e extraem, com simpatia e graça, o que há de mais solar, de melhor. Não estão nem um pouco preocupados com a reciprocidade nos relacionamentos. Desejam tudo para si, constantemente. E como os há! Nessa época de exaltação à individualidade - tão louvada e estimulada - a palavra compartilhar (fora das redes sociais) praticamente desapareceu. Parecem dizer: se é bom para mim, basta. Vou me abastecer da vítima e logo após encontrarei outra capaz de me nutrir. É quase impossível livrar-se deles, mas podemos, ao longo da existência, encontrar formas de nos proteger. Caso contrário, estaremos destinados a entregar a terceiros generosas fatias de um bem precioso: o nosso tempo.
A propósito do assunto, a antropóloga Mirian Goldenberg refere-se ao termo com graça e ironia. Diz ela: “Os grupos de Whatsapp, com seus indefectíveis bom-dia e boa noite, são responsáveis por nos distrair e roubar valiosos minutos.” E como é malvisto o fato de não respondermos a essas manifestações que parecem geradas por um algoritmo, acabamos capitulando. E tem mais: sabe as pessoas exageradamente boazinhas que passam uma mão no seu ombro e com a outra dilapidam seu capital de alegria, pois só sabem tirar, nada dando em troca? Essas são extremamente difíceis de lidar, pois geram em nós uma grande sensação de culpa se não as atendermos. Precisamos, na verdade, criar alguns escudos para evitar a ameaça de padecer de anemia da alma. Tanto nos é arrancado, sobrando pouco para o próprio usufruto. Eu me policio o máximo possível. Tento manter viva a capacidade da escuta atenta para com o outro. Mas me fecho em copas ao perceber más intenções evidentes. Agradecer e declinar dessas investidas é um ato de sobrevivência. Perdemos inúmeras horas tentando ser gentis, procurando agradar. Boa educação sempre, mas há um limite para tudo.
Ao menor descuido podemos nos transformar nesses seres que parasitam sentimentos. Manter os olhos bem abertos e uma disponibilidade controlada pode ser o caminho indicado para o saldo de prazer não precisar ser penhorado. Concentre-se no essencial: em relações saudáveis e de reciprocidade garantida. Caso contrário, você corre o risco de estar no radar de quem pretende tão somente viver às custas da sua vulnerabilidade.