Gilmar Marcílio
Sou extremamente sensível a qualquer tipo de agressão verbal. Reajo de duas maneiras, invariavelmente: fico paralisado (na maioria das vezes) ou devolvo com palavras ásperas e geralmente me arrependo. Desconheço a origem desses impulsos. Provavelmente trata-se de algum gatilho emocional remetendo a situações vividas na infância, numa época em que criança ouvia e calava, pouco importando o conteúdo da fala. Tenho visto isso na terapia, mas estou longe de compreender porque me incomodo tanto. Claro, ninguém gosta de receber uma saraivada de impropérios; pior ainda se vindos de pessoas com as quais mantemos convivência. Talvez por ter me deparado recentemente com diversos seres agressivos, essa sensação de desconforto passou a habitar a minha mente com constância. Normalmente associamos atitudes assim aos desprovidos de formação e acesso, distantes de um mínimo de afabilidade. Engano. Ou achar que dinheiro e status social ajudam. Nem sempre. Identifico casos emblemáticos. A inteligência e uma generosa conta bancária intensificam ocasionalmente a arrogância e servem de justificativa para despejar sobre o interlocutor frases ofensivas. Sou tocado por comportamentos – a meu ver insustentáveis – dos que se amparam no desejo de autenticidade. A consequência é surpreender-me fragilizado, sem saber direito o que fazer.
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