Sou extremamente sensível a qualquer tipo de agressão verbal. Reajo de duas maneiras, invariavelmente: fico paralisado (na maioria das vezes) ou devolvo com palavras ásperas e geralmente me arrependo. Desconheço a origem desses impulsos. Provavelmente trata-se de algum gatilho emocional remetendo a situações vividas na infância, numa época em que criança ouvia e calava, pouco importando o conteúdo da fala. Tenho visto isso na terapia, mas estou longe de compreender porque me incomodo tanto. Claro, ninguém gosta de receber uma saraivada de impropérios; pior ainda se vindos de pessoas com as quais mantemos convivência. Talvez por ter me deparado recentemente com diversos seres agressivos, essa sensação de desconforto passou a habitar a minha mente com constância. Normalmente associamos atitudes assim aos desprovidos de formação e acesso, distantes de um mínimo de afabilidade. Engano. Ou achar que dinheiro e status social ajudam. Nem sempre. Identifico casos emblemáticos. A inteligência e uma generosa conta bancária intensificam ocasionalmente a arrogância e servem de justificativa para despejar sobre o interlocutor frases ofensivas. Sou tocado por comportamentos – a meu ver insustentáveis – dos que se amparam no desejo de autenticidade. A consequência é surpreender-me fragilizado, sem saber direito o que fazer.
A contenção revela-se o melhor caminho quando nos sentimos agredidos. Jamais deveríamos acreditar que se está autorizado a dizer tudo, ignorando a sensibilidade dos outros. Agradecer e desculpar-se são opções louváveis. Alçar-se acima da humanidade constituiu-se em algo enganosamente admirado. Ao contrário: a grosseria é a fresta pela qual se esgueiram os fracos. Há uma verdade incontornável: gente insegura foge do diálogo. Costuma gritar, vociferar. Marcar posição no mundo transcende o direito de relacionar-se impondo uma visão ancorada no particular. Entender as razões alheias é o primeiro passo para dar à gentileza largo espaço em nossas vidas. Treino assiduamente em busca de transformar a vulnerabilidade em aprendizado. Afinal, é bem difícil passar o dia todo armado. No mínimo cansa, esgota.
Ser PhD significa tão somente apoderar-se um pouco mais de determinado assunto. Mas não nos habilita para o trato civilizado. Constantemente é apenas um escudo sedimentando privilégios, cegando-nos para o óbvio: a necessidade de respeito para com todos. Possivelmente estou distante de alcançar o ideal ao perceber-me colocado à prova neste assunto. Mas a aspereza nunca definiu meu lugar. Gostaria de reencontrar quem, em tempos idos, colocou diante de mim o dedo em riste. Eu lhe diria: o que te tornou tão amargo a ponto de afirmar uma pretensa superioridade usando a linguagem como chicote?
A estupidez é o salvo-conduto dos medíocres.