Gilmar Marcílio
A sensatez sinaliza qual o melhor caminho para a resolução de conflitos: a prática da complacência. Relacionar-se significa, essencialmente, colocar em ação a faculdade de ver o outro em suas idiossincrasias. E respeitá-las. Não precisamos abdicar de qualquer princípio, mas somente nos deslocarmos de um reduto fechado de ideias, esquadrinhando múltiplas concepções. Os universos da política e da religião raramente se revelam sensíveis à adoção de atitudes propensas a abraçar o diferente. A falsa noção de que se é detentor de alguma verdade costuma matar a possibilidade da revisão de conceitos. E inúmeras vezes eles são a mera reprodução do entendimento coletivo. Poucos seres desenvolvem, no correr da vida, uma capacidade crítica capaz de alçá-los além do senso comum. A ausência de critérios pessoais transformou-se na tônica desses dias. A consequência mais nefasta é a de acreditar em tudo o que se preconiza como certo e errado. E isso faz nascer dentro de nós laivos de arrogância. O revisionismo nunca esteve tão ausente do ideal contemporâneo. Estamos editando a Inquisição com ares de modernidade. Fogueira para todos os que ousam discordar, saindo do padrão.
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