Você sente no peito ou na mente, não sabe direito, uma sensação estranha, indefinida. Difícil falar, se lhe perguntarem. Contudo, mais incômoda do que aquelas dores que, se não o impedem de viver, obscurecem a alegria. Na impossibilidade de nominá-los, os sentimentos adquirem proporções além da dimensão real ocupada dentro de nós. Quanto mais adentrarmos em nosso interior, maior será a chance de expandir a luz. Para essa árdua tarefa, podemos contar com profissionais da área da saúde psíquica. Eles nos instigam a investigar esses estados emocionais, convertendo, através do esforço da vigilância, o enigmático em simples. Ou que possa ser olhado abertamente, permitindo-nos dizer: “Agora vou caminhar rumo à libertação deste desconforto, tão parecido com o desencontro comigo mesmo.” A impressão de surpreender-se estrangeiro para a pessoa que melhor pensamos conhecer — nós — pode resultar em atrofias, barrando a execução de trabalhos cotidianos banais, até provocar a imobilidade diante do prosaico.
Creio na importância de refletir sobre o assunto nesta época de queixas se multiplicando pelas consequências observadas depois de longo isolamento social. Amigos que estão atravessando os meses sem consideráveis preocupações de ordem existencial ou financeira confessam a inadequação a esta realidade de restrições. E do temor da retomada. Acordam angustiados por nada, como se, durante o sono, tivessem sofrido algum tipo de perda ou fracassado em algo relevante em sua vida. Resistem o quanto podem em pedir auxílio, pois consideram passageiro esse estado que dificulta experimentar livremente uma realidade até então de sobressaltos entremeados com relativa paz. De uma maneira ou outra, estamos todos nos sentindo desafiados a sobreviver no enfrentamento de situações inéditas. Conversar com familiares ou terapeutas ajuda sempre. O primeiro passo, indiscutivelmente, é conseguir traduzir para si próprio do que se trata. Todo monstro deixa de sê-lo se encarado de frente. O difuso tem a aparência ampliada, geralmente para o campo do assustador. O processo de cura nunca é instantâneo, mas reverbera numa mudança significativa na forma de encarar futuros problemas.
Busque pelas palavras, elas costumam nos salvar quando as coisas parecem submergir. A capacidade de verbalização é altamente terapêutica. Desmancha os nós da alma, conduzindo-a por paisagens longe das turbulências. Somos mentalmente complexos, porém capazes de alimentar o entendimento do que anima o relacionamento conosco e os demais. Quando menos se espera, as madrugadas insones transformam-se no necessário descanso rumo à reordenação da existência. As feridas cicatrizam rápido se ficarem só breve tempo cobertas por curativos. Tudo precisa de sol. Principalmente o que se guarda, medrosamente, em quarto fechado.