Há algo de preocupante acontecendo no universo infantil. Não é uma opinião pessoal, mas a constatação de profissionais da área médica e da saúde mental. Algumas questões se evidenciam quando observamos com atenção o que ocorre com elas. Em primeiro lugar, estão lhes sonegando o direito de se frustrarem. Isso pode parecer, num primeiro momento, um ato cauteloso dos pais. Porém, tem se revelado altamente nefasto na formação do seu caráter. Colocar numa estufa emocional os filhos está longe de significar proteção. Antes, torna-os vulneráveis diante de qualquer situação adversa na idade adulta. Expor-se significa criar anticorpos para superar dramas futuros. Impor limites e permitir a aprendizagem através da instauração da consciência do certo e do errado é altamente educacional. Ensinar não se restringe a passear por um parque de diversões. Em várias ocasiões sua resistência precisará ser testada. E a capacidade de gerir bem os conflitos depende muito da internalização de códigos de sobrevivência advindos da força adquirida ao longo da existência. Envolver um ser humano em algodão é reduzir seu repertório adaptativo. Diante da adversidade ele se sentirá acuado, sem ter onde se acudir.
E frente às dificuldades na resolução de algo conflitivo, está se recorrendo em demasia à medicação. Necessária e bem-vinda na dose certa. Porém, ante o desespero testemunhado e na tentativa de blindar seus pacientes, pediatras atendem às súplicas prescrevendo uma infinidade de remédios para os acalmar. Supõem, enganosamente, ser este o caminho da fortaleza. Na verdade, é o contrário: tornam-se dependentes e já não sabem lidar com nada que saia do seu roteiro sem o uso dessa bengala. Gastam seus receituários aplacando sintomas. Se, por um lado, amortecem os eventuais efeitos negativos dos problemas enfrentados, também impedem o surgimento de uma película chamada resiliência. De quebra, vendo os genitores tão desamparados, receitam um antidepressivo para eles.
Resultado: a chegada da adolescência virá permeada de arrogância e da certeza do mundo dever girar ao redor do próprio umbigo. Ai de quem se atreve a questionar seus comportamentos. Agem como se tudo tivesse por objetivo agradá-los. Inventam um Olimpo pessoal e instalam-se no topo. E de lá tentarão manipular os demais, buscando a satisfação imediata de seus desejos e necessidades. Sonham tornar-se CEOs na adolescência, afastando o risco de terem que obedecer a alguém.
A solução? Talvez seja expor um pouco mais essas criaturas ainda no processo inicial. E deixar que sofram minimamente. Só assim conseguirão gerenciar melhor a dor advinda de uma realidade áspera e, ao mesmo tempo, humanizadora.