Gilmar Marcílio
No excelente filme alemão “100 coisas”, dois jovens executivos do mundo digital resolvem apostar algo inusitado: desfazer-se de todos os seus bens materiais para ver se é possível viver sem pilhas de quinquilharias, parando de correr atrás dos últimos lançamentos. Tentarão diminuir sua ansiedade, cortando também suas maiores fontes de prazer. A cada dia receberão um pertence de volta. A partir daí, o sentido das palavras perda e ganho adquirirão significado diverso. Achei uma boa oportunidade para refletir sobre a sociedade hiperconsumista. É bom comprar, claro, novidades soam como bálsamo aos ouvidos. Tudo reluzindo, pronto para nos encantar. O problema é o fato de estarmos atulhados de objetos que num futuro próximo serão descartados. E vale lembrar: cada um custou não só determinada soma de dinheiro, mas muitas e muitas horas de trabalho, posteriormente convertidas em moeda. Ou seja, pouca disponibilidade para seguir livremente, sem tantas amarras. Penso em como viveram as gerações que nos antecederam e imagino como deve ter sido desolador passar por múltiplas privações. Conforto é bom, mas em excesso esmorece a alma.
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